quarta-feira, 1 de junho de 2016

PÁSCOA

A Páscoa marcou o começo de uma nova era para o povo de Deus. Somente a partir da redenção, a vida de Israel passa a ter real significado, pelo fato de andar com Deus: "E falou o Senhor a Moisés e a Arão no Egito: Este mês será para vós o começo dos meses, será o primeiro mês do ano (Êxodo 12.1,2).
Jesus é a nossa Páscoa, conforme ensina o apóstolo Paulo nesta passagem: "Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1 Coríntios 5.7). Dadescrição da Páscoa, de Êxodo 12.1-28, destacamos alguns pontos interessantes, para compararmos com o ensino do Novo Testamento.
1. A separação do cordeiro. O cordeiro deveria ser guardado quatro dias: "Falai a toda a comunidade de Israel, dizendo: No dia dez deste mês cada um tome um animal por família, para cada casa. Devereis guardá-lo fechado até o dia catorze deste mês, quando toda a comunidade de Israel reunida o imolará" (vv. 3 e 6). Jesus, cumprindo rigorosamente esta profecia tipológica, entrou em Jerusalém quatro dias antes da Páscoa.
2. A perfeição do cordeiro. No verso cinco encontramos que o cordeiro tinha de ser perfeito: "O animal será sem defeito, um macho de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um cabrito".
3. A suficiência do cordeiro. Se um cordeiro fosse muito para uma família, deveria ser repartido com os vizinhos: "Se a família for pequena demais para um animal, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de comensais por animal" (v.4). - Estamos nós também repartindo Cristo, o Cordeiro de Deus, com os nossos vizinhos? Quando os discípulos levaram ao seu Senhor o problema da multidão faminta, sugerindo-lhe que a despedisse, Ele lhes disse: "Não precisam retirar-se, dai-lhes vós mesmos de comer" (Mateus 14.16). O Cordeiro deveria ser entregue por toda a Congregação, isto é, em favor de todo o povo. Jesus foi entregue por Deus para ser o Salvador de todo aquele que nele crê (João 3.16).
4.O sangue do cordeiro. Cada israelita devia apropriar-se do sangue. "Tomarão um pouco do sangue e untarão a moldura da porta das casas onde comerem" (v.7). Para aqueles que não se apropriam do sangue de Jesus, de nada vale o sacrifício expiatório do Calvário. A salvação é para todos, mas é necessário que cada um se aproprie dela através do sangue de Jesus. O valor da morte de Cristo é universal em sua suficiência, mas restrito em sua eficiência.
5. Os sofrimentos do cordeiro. A Páscoa devia ser comida com ervas amargas: "Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas" (v.8). Este texto fala do arrependimento, da tristeza pelo pecado, da lembrança dos sofrimentos de Jesus na cruz. A carne assada ao fogo fala das suas provações, de como Ele foi provado por Deus. Os pães sem levedura falam de Jesus como o verdadeiro Pão do Céu, sem pecado, sem mancha, sem hipocrisia.
6.  O cordeiro assado ao fogo. Os israelitas não deveriam comer nenhuma parte do cordeiro crua: "Não deveis comer dessa carne nada de cru, ou cozido em água, mas assado ao fogo, inteiro, com cabeça, pernas e vísceras" (v.9). A fé só tem valor quando posta no Cristo crucificado, morto e ressuscitado: "Assim, que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne, e, se antes conhecemos a Cristo segundo a carne, agora já não o conhecemos deste modo" (2 Coríntios 5.16). A cabeça indica a mente de Cristo e fala dos pensamentos puros: "Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra" (Colossenses 3.2). "Pois, quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo" (1 Coríntios 2.16). Os pés indicam a vida exemplar e santa de Jesus, e a fressura (ou entranhas) fala do afeto, do seu amor.
7. Quando devemos apropriar-nos do cordeiro? No versículo 10 lemos: "Não deixareis nada para o dia seguinte. O que sobrar, devereis queimá-lo no fogo". O tempo para nos apropriarmos da plenitude de Cristo é esta vida presente: "Porque todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça" (João 1.16). "Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Efésios 4.13). A expressão "o dia seguinte" fala do retorno de Cristo - um novo dia. "Assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou araiz e a geração de Davi, a brilhante estrela da manhã" (Apocalipse 2.28; 22.16). "O que sobrar, devereis queimá-lo", indica que só se pode tomar posse da salvação na presente dispensação da graça. Há uma relação perfeita entre o cordeiro da Páscoa e Jesus. Embora dezenas de milhares de cordeiros tenham morrido na primeira Páscoa, em Êxodo 12 a palavra "cordeiro" não aparece uma só vez no plural, mas sempre no singular. Nos versos 3,4 e 5 de Êxodo 12 Moody observou três passos no relacionamento do cordeiro com o povo de Deus: um cordeiro, um Salvador - Êxodo 12.3 e Lucas 2.11; o cordeiro, o Salvador - Êxodo 12.4 e João 4.42; seu cordeiro, meu Salvador - Êxodo 12.5 e Lucas 1.47.



A PRIMEIRA PÁSCOA
Como os israelitas comeram a primeira Páscoa?
1. Com os lombos cingidos (Êxodo 12.11). Ora, os crentes devem celebrar a sua "Páscoa" tendo os lombos cingidos com a Verdade, prontos para partir como estavam os israelitas no Egito. "Assim o comereis: com os cintos na cintura, os pés calçados, o bordão na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa do Senhor" (v.l 1). "Estai, pois, firmes, cingindo-yjos com a verdade, e vestindo-vos com a couraça da justiça" (Efésios 6.14). E o Senhor Jesus recomenda: "Cingidos estejam os vossos corpos e acesas as vossas candeias. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento, para que quando vier a bater à porta, logo lha abram" (Lucas 12.35,36).
2.  Com os pés calçados. As sandálias nos pés falam da pregação do Evangelho da paz: "Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que diz a Sião: o teu Deus reina!" (Isaías 52.7). "Calçai os pés com apreparação do Evangelho da paz" (Efésios 6.15).
3.  Com o cajado nas mãos. Todo crente é estrangeiro e peregrino aqui na terra. É este o testemunho de Jacó e do salmista: "Sou indigno de todas as misericórdias, de toda a fidelidade que tens usado para com o teu servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois bandos" (Gênesis 32.10).
"Sou peregrino na terra: não escondas de mim os teus mandamentos" (Salmo 119.19). Ao enviar seus discípulos, Jesus "ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, exceto um bordão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro" (Marcos 6.8). Temos, ainda, o testemunho do autor da carta aos Hebreus: "Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas, vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra" (Hebreus 11.13). E mais adiante: "Pela fé Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José, e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou" (Hebreus 11.21). E, finalmente, a palavra de Pedro: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma" (1 Pedro 2.11).
João Bunyan fala dos peregrinos a caminho da pátria celestial assediados por comerciantes ávidos por vender seus produtos. "O que mais assombrava os mercadores, porém, era o fato de os peregrinos fazerem pouco caso das mercadorias, não se dando sequer ao incômodo de olhar para elas. E se alguém os chamava para comprarem, tapavam os ouvidos, exclamando: Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade (Salmo 119.37). E olhavam para cima, dando a entender que os seus negócios estavam no Céu (Filipenses 3.20,21). Um dos da feira, querendo zombar destes homens, perguntou-lhes com insolência: - Que quereis comprar? E eles, encarando-o com muita seriedade, responderam: - Compramos a verdade (Provérbios 23.23)" (O Peregrino, Casa Publicadora das Assembléias de Deus, Lisboa, Portugal, 1981, p. 126).
4. A proteção do sangue. O sangue do cordeiro foi a proteção contra a escravidão e o juízo: "O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por vós e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxodo 12.13). O sangue de Jesus nos livra da escravidão de Satanás e da punição ou juízo eterno. A esse respeito escreveu Mackintosh:
"Nada mais era necessário, senão a aspersão do sangue, para se desfrutar de paz na passagem do anjo destruidor, quando a morte devia fazer a sua obra em todas as casas do Egito. Aos homens está ordenado morrerem uma só vez (Hebreus 9.27). Porém, Deus, em sua grande misericórdia, encontrou um substituto imaculado para Israel, sobre quem foi executada a sentença de morte. Assim, as exigências de Deus e a necessidade de Israel foram satisfeitas por uma mesma exigência: o sangue do cordeiro. O sangue fora das portas era prova de que tudo estava divinamente arrumado; e, portanto, dentro reinava perfeita paz. Uma sombra de dúvida no coração dum israelita teria sido uma desonra para o fundamento divino da paz - o sangue da expiação...
"Note-se que o israelita não descansava sobre os seus próprios pensamentos, nos seus sentimentos ou na sua experiência a respeito do sangue. Isto teria sido descansar sobre um fundamento fraco e movediço. Os seus pensamentos e os seus sentimentos podiam ser profundos ou superficiais; mas que fossem profundos ou superficiais, nada tinham a ver com o fundamento da sua paz. - Deus não havia dito: vendo vós o sangue, e avaliando-o como ele deve ser avaliado, eu passarei por cima de vósl Isto teria bastado para lançar um israelita em profundo desespero quanto a si próprio, visto que é impossível para o espírito humano apreciar o valor do precioso sangue do Cordeiro de Deus. O que dava paz era a certeza de que os olhos do Senhor estavam postos sobre o sangue, e que Ele apreciava o seu valor. Isto tranqüilizava o coração. O sangue estava de fora da porta, e o israelita encontrava-se dentro da casa, de modo que não podia ver aquele sangue; mas Deus o via, e isso era perfeitamente suficiente.

"A aplicação deste fato à questão da paz do pecador é bem clara. O Senhor Jesus Cristo, havendo derramado o seu precioso sangue em expiação perfeita pelo pecado, levou esse sangue à presença de Deus, e fez ali aspersão dele; e o testemunho de Deus assegura ao crente que as coisas estão liquidadas a seu favor -liquidadas, não pelo apreço que ele dá ao sangue, mas, sim, pelo próprio sangue, que tem um tão grande valor para Deus, que, por causa desse sangue, sem mais um jota ou um til, Deus pode perdoar com justiça todo o pecado e aceitar o pecador como um ser perfeitamente justo em Cristo. - Como poderia alguém desfrutar paz segura se a sua paz dependesse da sua própria apreciação do sangue? Seria possível? A melhor apreciação que o espírito humano possa formar do sangue estará sempre infinitamente abaixo do seu valor divino; e, portanto, se a nossa paz dependesse da apreciação que lhe devíamos dar, nós jamais poderíamos gozar de uma paz segura. O mesmo se daria se a buscássemos pelas obras da Lei (Romanos 9.32; Gálatas 2.16; 3.10). O fundamento da paz ou há de ser somente o sangue, ou então nunca teremos paz. Juntar-lhe o valor que nós lhe damos, é derrubar todo o edifício do cristianismo, precisamente como se conduzíssemos o pecador ao pé do monte Sinai e o puséssemos debaixo do concerto da Lei. Ou o sacrifício de Cristo é suficiente ou não é. - Se é suficiente» por que essas dúvidas e temores? As palavras dos nossos lábios confessam que a obra está cumprida, mas as dúvidas e temores do coração declaram que não. Todo aquele que duvida do seu perdão perfeito e eterno, nega, tanto quanto lhe diz respeito, o cumprimento do sacrifício de Cristo" (Ob. cit., pp. 106-108).

FONTE: Trechos tirados do livros de Abraão de Almeida- O tabernáculo e a Igreja.

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