A
Páscoa marcou o começo de uma nova era para o povo de Deus. Somente a partir da
redenção, a vida de Israel passa a ter real significado, pelo fato de andar com
Deus: "E falou o Senhor a Moisés e a Arão no Egito: Este mês será para vós
o começo dos meses, será o primeiro mês do ano (Êxodo 12.1,2).
Jesus
é a nossa Páscoa, conforme ensina o apóstolo Paulo nesta passagem: "Lançai
fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois de fato, sem
fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado" (1
Coríntios 5.7). Dadescrição da Páscoa, de Êxodo 12.1-28, destacamos alguns
pontos interessantes, para compararmos com o ensino do Novo Testamento.
1. A separação do cordeiro. O cordeiro
deveria ser guardado quatro dias: "Falai a toda a comunidade de Israel,
dizendo: No dia dez deste mês cada um tome um animal por família, para cada
casa. Devereis guardá-lo fechado até o dia catorze deste mês, quando toda a
comunidade de Israel reunida o imolará" (vv. 3 e 6). Jesus, cumprindo
rigorosamente esta profecia tipológica, entrou em Jerusalém quatro dias antes da
Páscoa.
2. A perfeição do cordeiro. No verso cinco
encontramos que o cordeiro tinha de ser perfeito: "O animal será sem
defeito, um macho de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um
cabrito".
3. A suficiência do cordeiro. Se um cordeiro
fosse muito para uma família, deveria ser repartido com os vizinhos: "Se a
família for pequena demais para um animal, convidará também o vizinho mais
próximo, de acordo com o número de comensais por animal" (v.4). - Estamos
nós também repartindo Cristo, o Cordeiro de Deus, com os nossos vizinhos?
Quando os discípulos levaram ao seu Senhor o problema da multidão
faminta, sugerindo-lhe que a despedisse, Ele lhes disse: "Não precisam
retirar-se, dai-lhes vós mesmos de comer" (Mateus 14.16). O Cordeiro
deveria ser entregue por toda a Congregação, isto é, em favor de todo o povo.
Jesus foi entregue por Deus para ser o Salvador de todo aquele que nele crê
(João 3.16).
4.O sangue do cordeiro. Cada israelita
devia apropriar-se do sangue. "Tomarão um pouco do sangue e untarão a
moldura da porta das casas onde comerem" (v.7). Para aqueles que não se
apropriam do sangue de Jesus, de nada vale o sacrifício expiatório do Calvário.
A salvação é para todos, mas é necessário que cada um se aproprie dela através
do sangue de Jesus. O valor da morte de Cristo é universal em sua suficiência,
mas restrito em sua eficiência.
5. Os sofrimentos do cordeiro. A Páscoa devia
ser comida com ervas amargas: "Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão
comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas" (v.8). Este
texto fala do arrependimento, da tristeza pelo pecado, da lembrança dos
sofrimentos de Jesus na cruz. A carne assada ao fogo fala das suas provações,
de como Ele foi provado por Deus. Os pães sem levedura falam de Jesus como o
verdadeiro Pão do Céu, sem pecado, sem mancha, sem hipocrisia.
6.
O cordeiro assado ao fogo. Os israelitas
não deveriam comer nenhuma parte do cordeiro crua: "Não deveis comer dessa
carne nada de cru, ou cozido em água, mas assado ao fogo, inteiro, com cabeça,
pernas e vísceras" (v.9). A fé só tem valor quando posta no Cristo
crucificado, morto e ressuscitado: "Assim, que, nós, daqui por diante, a
ninguém conhecemos segundo a carne, e, se antes conhecemos a Cristo segundo a
carne, agora já não o conhecemos deste modo" (2 Coríntios 5.16). A cabeça
indica a mente de Cristo e fala dos pensamentos puros: "Pensai nas coisas
lá do alto, não nas que são aqui da terra" (Colossenses 3.2). "Pois,
quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a
mente de Cristo" (1 Coríntios 2.16). Os pés indicam a vida exemplar e
santa de Jesus, e a fressura (ou entranhas) fala do afeto, do seu amor.
7. Quando devemos apropriar-nos do
cordeiro?
No
versículo 10 lemos: "Não deixareis nada para o dia seguinte. O que sobrar,
devereis queimá-lo no fogo". O tempo para nos apropriarmos da plenitude de
Cristo é esta vida presente: "Porque todos nós temos recebido da sua
plenitude, e graça sobre graça" (João 1.16). "Até que todos cheguemos
à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Efésios 4.13).
A expressão "o dia seguinte" fala do retorno de Cristo - um novo dia.
"Assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da
manhã. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às
igrejas. Eu sou araiz e a geração de Davi, a brilhante estrela da manhã"
(Apocalipse 2.28; 22.16). "O que sobrar, devereis queimá-lo", indica
que só se pode tomar posse da salvação na presente dispensação da graça. Há uma
relação perfeita entre o cordeiro da Páscoa e Jesus. Embora dezenas de milhares
de cordeiros tenham morrido na primeira Páscoa, em Êxodo 12 a palavra
"cordeiro" não aparece uma só vez no plural, mas sempre no singular.
Nos versos 3,4 e 5 de Êxodo 12 Moody observou três passos no relacionamento do
cordeiro com o povo de Deus: um cordeiro, um Salvador - Êxodo 12.3 e Lucas
2.11; o cordeiro, o Salvador - Êxodo 12.4 e João 4.42; seu cordeiro, meu
Salvador - Êxodo 12.5 e Lucas 1.47.
A PRIMEIRA
PÁSCOA
Como
os israelitas comeram a primeira Páscoa?
1. Com os lombos cingidos (Êxodo 12.11).
Ora, os crentes devem celebrar a sua "Páscoa" tendo os lombos
cingidos com a Verdade, prontos para partir como estavam os israelitas no
Egito. "Assim o comereis: com os cintos na cintura, os pés calçados, o
bordão na mão; e comereis às pressas, pois é a Páscoa do Senhor" (v.l 1).
"Estai, pois, firmes, cingindo-yjos com a verdade, e vestindo-vos com a
couraça da justiça" (Efésios 6.14). E o Senhor Jesus recomenda: "Cingidos
estejam os vossos corpos e acesas as vossas candeias. Sede vós semelhantes
a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento,
para que quando vier a bater à porta, logo lha abram" (Lucas 12.35,36).
2.
Com os pés calçados. As sandálias nos pés falam da pregação
do Evangelho da paz: "Que formosos são sobre os montes os pés do que
anuncia as boas-novas, que diz a Sião: o teu Deus reina!" (Isaías 52.7).
"Calçai os pés com apreparação do Evangelho da paz" (Efésios 6.15).
3.
Com o cajado nas mãos. Todo crente é estrangeiro e peregrino
aqui na terra. É este o testemunho de Jacó e do salmista: "Sou indigno de
todas as misericórdias, de toda a fidelidade que tens usado para com o teu
servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois
bandos" (Gênesis 32.10).
"Sou
peregrino na terra: não escondas de mim os teus mandamentos" (Salmo
119.19). Ao enviar seus discípulos, Jesus "ordenou-lhes que nada levassem
para o caminho, exceto um bordão: nem pão, nem alforge, nem
dinheiro" (Marcos 6.8). Temos, ainda, o testemunho do autor da carta aos
Hebreus: "Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas,
vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros
e peregrinos sobre a terra" (Hebreus 11.13). E mais adiante:
"Pela fé Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de
José, e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou"
(Hebreus 11.21). E, finalmente, a palavra de Pedro: "Amados, exorto-vos,
como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das
paixões carnais que fazem guerra contra a alma" (1 Pedro 2.11).
João
Bunyan fala dos peregrinos a caminho da pátria celestial assediados por
comerciantes ávidos por vender seus produtos. "O que mais assombrava os
mercadores, porém, era o fato de os peregrinos fazerem pouco caso das
mercadorias, não se dando sequer ao incômodo de olhar para elas. E se alguém os
chamava para comprarem, tapavam os ouvidos, exclamando: Desvia os meus olhos
de contemplarem a vaidade (Salmo 119.37). E olhavam para cima, dando a
entender que os seus negócios estavam no Céu (Filipenses 3.20,21). Um dos da
feira, querendo zombar destes homens, perguntou-lhes com insolência: - Que
quereis comprar? E eles, encarando-o com muita seriedade, responderam: - Compramos
a verdade (Provérbios 23.23)" (O Peregrino, Casa Publicadora das
Assembléias de Deus, Lisboa, Portugal, 1981, p. 126).
4. A proteção do sangue. O sangue do
cordeiro foi a proteção contra a escravidão e o juízo: "O sangue vos será
por sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por vós
e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito"
(Êxodo 12.13). O sangue de Jesus nos livra da escravidão de Satanás e da
punição ou juízo eterno. A esse respeito escreveu Mackintosh:
"Nada
mais era necessário, senão a aspersão do sangue, para se desfrutar de paz na
passagem do anjo destruidor, quando a morte devia fazer a sua obra em todas as
casas do Egito. Aos homens está ordenado morrerem uma só vez (Hebreus
9.27). Porém, Deus, em sua grande misericórdia, encontrou um substituto
imaculado para Israel, sobre quem foi executada a sentença de morte. Assim, as exigências
de Deus e a necessidade de Israel foram satisfeitas por uma mesma exigência: o
sangue do cordeiro. O sangue fora das portas era prova de que tudo estava
divinamente arrumado; e, portanto, dentro reinava perfeita paz. Uma sombra de
dúvida no coração dum israelita teria sido uma desonra para o fundamento divino
da paz - o sangue da expiação...
"Note-se
que o israelita não descansava sobre os seus próprios pensamentos, nos seus
sentimentos ou na sua experiência a respeito do sangue. Isto teria sido
descansar sobre um fundamento fraco e movediço. Os seus pensamentos e os seus
sentimentos podiam ser profundos ou superficiais; mas que fossem profundos ou
superficiais, nada tinham a ver com o fundamento da sua paz. - Deus não havia
dito: vendo vós o sangue, e avaliando-o como ele deve ser avaliado, eu
passarei por cima de vósl Isto teria bastado para lançar um israelita em
profundo desespero quanto a si próprio, visto que é impossível para o espírito
humano apreciar o valor do precioso sangue do Cordeiro de Deus. O que dava paz
era a certeza de que os olhos do Senhor estavam postos sobre o sangue, e que
Ele apreciava o seu valor. Isto tranqüilizava o coração. O sangue estava de
fora da porta, e o israelita encontrava-se dentro da casa, de modo que não
podia ver aquele sangue; mas Deus o via, e isso era perfeitamente suficiente.
"A
aplicação deste fato à questão da paz do pecador é bem clara. O Senhor Jesus
Cristo, havendo derramado o seu precioso sangue em expiação perfeita pelo
pecado, levou esse sangue à presença de Deus, e fez ali aspersão dele; e o
testemunho de Deus assegura ao crente que as coisas estão liquidadas a seu
favor -liquidadas, não pelo apreço que ele dá ao sangue, mas, sim, pelo próprio
sangue, que tem um tão grande valor para Deus, que, por causa desse sangue, sem
mais um jota ou um til, Deus pode perdoar com justiça todo o pecado e aceitar o
pecador como um ser perfeitamente justo em Cristo. - Como poderia alguém
desfrutar paz segura se a sua paz dependesse da sua própria apreciação do
sangue? Seria possível? A melhor apreciação que o espírito humano possa formar
do sangue estará sempre infinitamente abaixo do seu valor divino; e, portanto,
se a nossa paz dependesse da apreciação que lhe devíamos dar, nós jamais
poderíamos gozar de uma paz segura. O mesmo se daria se a buscássemos pelas
obras da Lei (Romanos 9.32; Gálatas 2.16; 3.10). O fundamento da paz ou há de ser
somente o sangue, ou então nunca teremos paz. Juntar-lhe o valor que nós lhe
damos, é derrubar todo o edifício do cristianismo, precisamente como se
conduzíssemos o pecador ao pé do monte Sinai e o puséssemos debaixo do concerto
da Lei. Ou o sacrifício de Cristo é suficiente ou não é. - Se é suficiente» por
que essas dúvidas e temores? As palavras dos nossos lábios confessam que a obra
está cumprida, mas as dúvidas e temores do coração declaram que não. Todo
aquele que duvida do seu perdão perfeito e eterno, nega, tanto quanto lhe diz
respeito, o cumprimento do sacrifício de Cristo" (Ob. cit., pp. 106-108).
FONTE: Trechos tirados do livros de Abraão de Almeida- O tabernáculo e a Igreja.
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