Uma das passagens mais conhecidas de toda a Bíblia é João
3.16. Através dela podemos ver a intervenção vertical de Deus na história da
humanidade: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Em 1 João 3.16, temos a afirmação correlata, que trata dos
nossos relacionamentos horizontais: “Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu
a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos”.
Ninguém duvida do amor de Deus por nós. A demonstração
histórica deste amor foi expressa quando Deus entregou-se a si mesmo através de
Cristo Jesus. Agora ele diz: “Nós devemos dar nossa vida pelos irmãos”. Ele não
faz nenhuma distinção entre o fato real de Cristo ter dado a sua vida e a ordem
para entregarmos as nossas vidas. São dois atos de uma mesma espécie.
É verdade que não posso dar a minha vida por você numa morte
vicária ou substitutiva, mas posso fazer isto por causa de uma aliança. Em
ambos os casos a qualidade da entrega é a mesma. Jesus Cristo provou a extensão
do amor de Deus quando morreu literalmente por nós. E a Palavra nos diz que é
isto que se espera de nós no nosso espírito e atitude ainda que não seja
necessário dar nossa vida na prática. Mas quando eu digo: “Mesmo que não seja
necessário”, corro o risco de estar acrescentando algo perigoso à Escritura.
Pois será que nos nossos corações nós realmente cremos que há possibilidade de
sermos chamados para fazer esta entrega literal da nossa vida? Creio que
precisamos reconhecer que estamos vivendo numa época muito séria. As nações
estão em tumulto – e estamos nos aproximando do verdadeiro clímax da história,
com todos os seus transtornos e desafios. Precisamos estar preparados para
fazer alguns sacrifícios muito reais.
O QUE SIGNIFICA UMA ALIANÇA?
Para falar do amor horizontal de uma aliança entre irmãos,
quero usar a ilustração de Davi e Jônatas. Quando Davi e Jônatas se encontraram
pela primeira vez, eles viviam num contexto de aliança. Ambos entendiam bem a
natureza da aliança de Deus com Israel. Conheciam a história dos tratamentos e
disciplinas que Israel recebeu de Deus nesta aliança. Conheciam a aliança de
Deus com Abraão (Gn 17.1-16). Conheciam a aliança de Deus com a nação de Israel
(Êx 19.5-6).
Quando Moisés tomou sangue e o aspergiu no livro, e depois
tomou o restante e o atirou sobre a congregação, havia sangue no livro, sangue
no povo e sangue em todo lugar (Êx 24.3-8; Hb 9.19-22). Aquele povo entendia a
natureza de uma aliança. Eram homens que viviam numa sociedade que entendia o
significado da aliança. Entendiam como estabelecer uma aliança; entendiam o que
significava quebrar uma aliança; conheciam as regras e os regulamentos, as
disciplinas e as penalidades que acompanhavam uma aliança.
Creio que nós temos a desvantagem de não compreendermos a
natureza de uma aliança. E esta falha está relacionada com o sentimentalismo
mole e insípido que normalmente caracteriza a introdução na fé cristã. Temos
uma iluminação delicada, música suave do órgão, e o convite: “Venha a Cristo e
ele se tornará seu amigão!”
No princípio não era assim! Jesus reuniu os seus discípulos
e instituiu a ceia do Senhor no contexto sangüinolento da celebração da páscoa.
Ele o fez à sombra da sua própria cruz que se lhe aproximava. Ele tomou aquele
cálice e viu no seu conteúdo vermelho o seu próprio sangue! E quando ele o deu
aos seus discípulos, ele estava dizendo: “Isto os ligará a mim e os ligará uns
aos outros. Ele é o sangue de uma nova aliança que tem todas as qualidades da
velha aliança; só que é um sangue melhor, com melhores esperanças, com melhores
promessas e com um futuro melhor; no entanto, vocês precisam entender que isto
é um negócio sangüinolento!”
Quando Davi e Jônatas fizeram aliança entre si, eles não
estavam fazendo algumas promessas sentimentais. Não estavam trocando anéis de
amizade. Quero que você entenda como eles se relacionaram como agiu um com o
outro e com o Senhor.
1 Samuel 20.8: “Usa, pois, de misericórdia para com o teu
servo, porque lhe fizeste entrar contigo em aliança no Senhor.” Não era apenas
uma aliança entre Davi e Jônatas. Eles sabiam o que estavam fazendo.
Versículo 12: “E disse Jônatas a Davi: o Senhor, Deus de
Israel, seja testemunha.” Ele introduziu Deus neste assunto, porque sabia qual
era o significado daquilo que os dois estavam fazendo.
Versículo 42: “Disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz,
porquanto juramos ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja para sempre
entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua.” Eles compreendiam bem a
dimensão divina que existia na sua aliança horizontal.
1 Samuel 23.18: “E ambos fizeram aliança perante o Senhor.”
2 Samuel 9.3: “Disse-lhe o rei: Não há ainda alguém da casa
de Saul para que use eu da bondade de Deus para com ele?”
A aliança de Davi com Jônatas era tão intimamente ligado ao
seu relacionamento com Deus, que quando ele cumpriu a sua parte desta aliança,
ele falou que estava usando a “bondade de Deus”. Portanto, eles sabiam muito
bem o que estavam fazendo.
ALIANÇA – UM RELACIONAMENTO ESPECÍFICO
Agora vamos expor nossos corações para aquilo que se passou
entre Davi e Jônatas. 1 Samuel 18.1: “Sucedeu que acabando Davi de falar com
Saul, a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e Jônatas o amou, como à sua
própria alma.”
Deixe-me dizer algo aqui. É impossível uma pessoa ter um
relacionamento de aliança, que seja realmente significativo, com toda a
comunidade redimida do mundo todo. Não há nenhuma possibilidade prática para
isto. Em outras palavras, cada pessoa precisa conhecer seu lugar de responsabilidade como cristão. Quando alguém
diz: “Bem, eu sou um membro do corpo de Cristo, da igreja universal”, na
realidade ele está dizendo que não pertence a nada! Significa que ele não tem
compromisso algum e que não tem responsabilidade prática em igreja alguma!
Na maioria dos casos, isto constitui apenas uma desculpa
para não se envolver num relacionamento de responsabilidade, onde a pessoa terá
que se desenvolver em Deus. Eu poderia dizer ainda mais que uma pessoa nunca
amadurecerá em Deus e provavelmente vai murchar e secar-se rapidamente, se ela
não entrar num relacionamento significativo com outros cristãos no contexto de
um corpo de pessoas que estejam crescendo e prosseguindo em conjunto. Eu não
posso amadurecer sozinho! Preciso amadurecer numa comunidade.
Quero repetir: Não posso estabelecer uma aliança com todo
mundo! E a Bíblia diz que a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi. O Novo
Testamento diz que somos vinculados uns aos outros (Cl 2.19). Portanto eu
preciso ser ligado e vinculado a alguém. Não posso ser ligado a todo o mundo. A
quem você está ligado? Porque eu sei precisamente a quem estou vinculado no
corpo.
Agora, o fato de eu ser ligado especificamente a algumas
pessoas não significa que não esteja satisfeito com meu relacionamento amplo
com todos os cristãos em todos os lugares. Mas é impossível manter um
relacionamento de aliança com todos os cristãos do mundo. Preciso ter um
vínculo específico com algumas pessoas, com as quais eu possa desenvolver um relacionamento
real e prático num processo progressivo de amadurecimento no Senhor. Tem que
haver um vínculo específico entre nós. A alma de Jônatas foi ligada à alma de
Davi. Creio que esta ligação, mesmo naquela época distante, foi uma obra
divina. E hoje, será uma obra ainda mais excelente, pelo fato desta aliança ser
melhor que a antiga.
Os sociólogos ensinam que cada pessoa pode ter um
relacionamento significativo com apenas doze pessoas, no máximo. Os cientistas
mostram que na estrutura atômica do universo, o número máximo de átomos que
podem ter contato direto entre si é doze! “Porque os atributos invisíveis de
Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente
se reconhecem... sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm
1.20).
Deus colocou na própria estrutura atômica do universo esta
verdade: somente doze átomos podem ter um relacionamento significativo uns com
os outros. Compreendi então porque houve doze tribos. Compreendi porque houve
doze apóstolos. Compreendi porque doze é o número de governo na Bíblia.
Não posso ter um relacionamento de aliança que seja
significativo com todo o mundo. Mas se eu realmente alcançar um relacionamento
significativo, genuíno e real com doze pessoas, este relacionamento poderá ser
projetado, ampliado e multiplicado, e aonde eu encontrar um membro da
comunidade da aliança, da comunidade redimida, universal, vou saber
imediatamente como me relacionar com ele. Através da maturidade do meu
relacionamento específico surgirá uma integridade que será manifestada em todos
os lugares onde eu encontrar o povo de Deus. À medida que mantenho e desenvolvo
os meus relacionamentos de aliança na minha região específica, estou me
preparando para ser um homem de Deus em qualquer lugar onde eu estiver junto
com o povo de Deus através de toda a face da terra.
O PRINCÍPIO É GLORIOSO
Vimos que a aliança de Deus conosco foi alicerçada no seu
amor sacrificial e na doação da sua própria vida. Da mesma forma, descobriremos
que quando a alma de Jônatas foi ligada à alma de Davi, Jônatas o amou como à
sua própria alma. E depois disto, Saul o tomou e não lhe permitiu que voltasse
para sua casa (1 Sm 18.1,2).
Nestas alturas as coisas estão indo bem. Tudo está
favorável. Jônatas amava a Davi, e os dois estabeleceram entre si uma aliança.
Davi era um homem popular, pois já alcançara várias vitórias espetaculares,
livrara o exército israelita de vergonha e opróbrio, e atingira uma posição de
alta estima na corte do rei Saul. Até agora, como moço ainda jovem e corajoso,
sempre envolvido em algum ato de proeza ou heroísmo, ele não constituía nenhuma
ameaça ao reinado de Saul. E desta forma, Saul se alegrou em convidá-lo a
participar da sua corte. Afinal, é conveniente ter um indivíduo assim por perto
– uma hora ele poderá ser útil.
Por que estou falando sobre isto? Porque firmar uma aliança
com alguém é um ato que muitas vezes se torna muito fácil e cômodo, mesmo no
caso de ser um ato genuíno e real. Entrar na aliança é gostoso, é emocionante,
é uma aventura maravilhosa. É “tudo azul”, tudo esperança, tudo belo e
convidativo. Mas é preciso compreender o que uma aliança realmente envolve.
“CORTAR” UMA ALIANÇA
Fazer uma aliança não era um costume estritamente israelita
ou cristão. Era praticado e conhecido no mundo inteiro. E sempre envolvia o
derramamento de sangue e o compromisso mútuo de doar a vida um para o outro.
Quando a aliança era feita entre duas pessoas, a simbologia
era muito simples. Elas cortavam alguns animais ao meio, e colocavam as metades
opostas, uma de cada lado de um corredor. Temos um exemplo disto em Gênesis
15.9-18. Só que neste caso era uma aliança entre Deus e Abraão, e não entre dois
homens. Por isto a tocha de fogo passou entre os pedaços, significando que Deus
estava estabelecendo uma aliança unilateral, e incondicional com Abraão.
Mas quando duas pessoas faziam aliança entre si, elas
estavam dando, uma à outra, o seu próprio sangue. Geralmente, depois de andar
juntas no meio dos animais partidos, as duas se assentavam para comer o
sacrifício. A palavra no hebraico para “comer” contém muito mistério no seu
significado. Uma pesquisa revelará que ela significa tanto “comer” como “cortar”.
Portanto o sacrifício era cortado e depois comido.
É fácil perceber que se nós dois fizéssemos uma aliança e
déssemos as nossas vidas um para o outro, primeiro eu teria que me matar e dar
a minha vida para você, e depois você se mataria e daria a sua vida para mim.
Não sobraria muita coisa para dar seqüência ao nosso relacionamento de aliança!
Mas na verdade, tudo isto era feito por símbolos, ou seja,
através dos animais que eram sacrificados. Quando alguém andava no meio
daqueles animais partidos, ele estava “cortando” uma
aliança. (Obs: Todas as vezes que lemos no Velho Testamento que alguém “fez”
uma aliança – como em Gn 15.18 – a palavra hebraica é cortar: “Naquele mesmo
dia cortou o Senhor aliança com Abraão...” A própria palavra usada para “fazer”
uma aliança foi derivada desta prática de estabelecer uma aliança através de
cortar os animais do sacrifício e passar no meio deles.)
Por isto quando eu “corto” uma aliança com você, eu estou
dizendo: “Eu dou a minha vida para você e você dá a sua vida para mim; agora
nós vamos comer este animal, e ao fazer isto, estaremos comendo a própria vida
um do outro de sorte que sejamos ligados numa aliança de sangue”. E não é só
isto. Estamos dizendo também: “Se qualquer um de nós violar esta aliança, que
aconteça a nós como se deu com estes animais!”
Veja o que Deus disse aos filhos de Israel através do profeta
Jeremias: “Farei aos homens que transgrediram a minha aliança e não cumpriram
as palavras da aliança que fizeram perante mim, como eles fizeram com o bezerro
que dividiram em duas partes, passando eles pelo meio das duas partes: os
príncipes de Judá, os príncipes de Jerusalém, os oficiais, os sacerdotes e todo
o povo da terra, os quais passaram por meio das porções do bezerro,
entregá-los-ei nas mãos de seus inimigos, e nas mãos dos que procuram a sua
morte, e os cadáveres deles servirão de pasto às aves do céus e aos animais da
terra” (Jr 34.18-20). Portanto, fazer uma aliança desta maneira não era apenas
uma forma pitoresca ou simbólica para se representar um ato insignificante. As
implicações eram profundas e as conseqüências muito sérias.
As palavras que usamos freqüentemente como uma espécie de
bênção aprazível, na verdade possuem um outro significado: “Atente o Senhor
entre mim e ti, quando nós estivermos apartados um do outro”. O sentido não é
que o Senhor nos guarde e proteja ainda que estejamos longe um do outro. Essas
palavras foram ditas quando Jacó e Labão fizeram a aliança e disseram: “Agora
fizemos um acordo, e Deus vigie você e Deus vigie a mim, e se um de nós dois
quebrar esta aliança, Deus nos julgue!” Portanto, quando você for repetir este
versículo para alguém, pelo menos fale estas palavras com o sentido correto! “O
Senhor vigie entre mim e ti, quando estivermos separados um do outro – Deus
está nos vigiando para ver se estamos sendo fiéis à nossa aliança!” (Ver Gn
31.44-55).
A ALEGRIA DA ALIANÇA
Voltemos à história de Davi e Jônatas. Como era costume
trocar presentes, Jônatas se despojou da sua capa, e a deu a Davi, junto com
sua armadura, espada, arco e cinto (1 Sm 18.4). Quando começamos a falar sobre
um determinado assunto, é muito fácil enfatizar um lado ou aspecto da questão
mais que os outros. E neste assunto de aliança, poderíamos nos tornar muito
sóbrios e melancólicos. Temos a tendência de ficarmos sérios e pensativos por
causa da necessidade de sermos comprometidos com alguém, com integridade e
veracidade. Tudo isto é bom e importante.
Mas se tivermos só este lado, ficaremos desequilibrados. Há
uma outra parte da nossa natureza, que deseja rir, bater palmas, brincar e se
deleitar nas coisas boas da vida. Isto também é válido. Tenho descoberto que a
prática dos meus relacionamentos de aliança com outros irmãos tem me levado a
andar com eles por lugares bem tenebrosos. Mas ao mesmo tempo temos nos
divertido bastante!
Desta forma, vejo em 1 Samuel 19.1 o seguinte: “E falou Saul
a Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos para que matassem a Davi. Porém
Jônatas, filho de Saul, estava mui afeiçoado a Davi.” Outra tradução em inglês
diz: “Jônatas se deleitava grandemente em Davi”. O relacionamento deles era
gostoso! Eles tinham prazer em estar juntos. A finalidade de uma aliança que
liga duas ou mais pessoas diante de Deus não é apenas produzir lealdade,
integridade, veracidade e a capacidade de enfrentar juntos os períodos de
provação e perseguição – mas é também para trazer a realização completa de cada
vida, de forma que tenhamos prazer e alegria uns nos outros!
Eu tenho um relacionamento de aliança com alguns irmãos, e
não me importo com as batalhas ou provas de fogo que temos de passar e que já
passamos juntos. Mas posso dizer que a alegria que temos uns nos outros é mais
que uma compensação satisfatória. Nós passamos horas juntos, compartilhando
juntos, comendo juntos, passeando juntos, partindo pão juntos e aconselhando-nos
mutuamente. Aleluia! Eu gosto disto!
A aliança do casamento é uma boa ilustração de tudo isto. Um
casamento feliz traz alegria, aventura e divertimento. Um casamento acertado
traz alegria, porque a mulher da sua mocidade é a mulher a quem Deus o ligou.
Toda a dor e trabalho de dar à luz e criar filhos, todas as provações, todos os
problemas, toda a frugalidade que vocês compartilham, todas as situações
tempestuosas pelas quais vocês têm passado, tudo isto tem uma compensação,
porque vocês têm um relacionamento de felicidade e regozijo juntos.
“Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). A primeira vez
que Deus viu alguma coisa que não era boa, foi quando viu Adão sozinho. Até
este ponto, quando Deus criava alguma coisa, ele dizia: “Ah, isto é bom!” Ele
criava mais alguma coisa e dizia: “Isto é bom, também”. Depois ele olhou e viu
Adão, e disse: “Olhe aí, aquilo não é bom!” E graças a Deus, ele resolveu o
problema! (Às vezes alguém pergunta se de fato ficou resolvido, mas é certo que
ficou!)
Francamente, não compreendo como passei tantos anos no
ministério sem relacionamento de aliança com outras pessoas! Se em alguns
momentos sinto-me triste em relação ao meu passado, é porque vejo como eu
andava sozinho, cometendo asneiras e estragando as coisas vez após vez,
simplesmente por não ter uma pessoa com quem eu pudesse ir junto à casa do
Senhor. Eu entrava naquele templo enorme, com sua torre alta e majestosa e seu
púlpito magnífico, fabricado sob encomenda, e seus bancos antigos e veneráveis
que comportavam duas mil pessoas sentadas. A multidão afluía para lá com
regozijo e alegria, mas eu entrava ali sozinho. Entregava o recado que pesava
na minha alma e depois saía sozinho. Eu vivia numa elevada solidão.
Não existe uma pessoa tão solitária quanto o pastor. Pois
ele não pode compartilhar os problemas do rebanho com o rebanho! Isto é óbvio.
E é justamente aqui que se vê a essência da pluralidade de relacionamentos.
Quando você vive em aliança com um outro irmão do seu nível de ministério e maturidade,
não é preciso carregar os pesos sozinho. Vocês compartilham os pesos, pois
melhor é serem dois do que um. Há uma recompensa melhor para o seu trabalho. Se
um cair, o outro o levantará. Se um passar frio, o outro o esquentará (Ec
4.9-12).
Essa não é uma história só de sacrifício e sofrimento, meu
irmão! Você não precisa ranger os seus dentes, cerrar os seus punhos, comprar
uma cruz, e arrastá-la pela rua principal da cidade! Nós precisamos de toda a
alegria e gozo que puderem ser extraídos de um relacionamento de aliança.
Aproveite, delicie-se nisto, e nunca permita que sua consciência o condene
quando um relacionamento produz esse fruto na sua vida! Isto vem de Deus!
Aleluia!
A PROVA DA ALIANÇA
Veremos agora como a aliança é provada. A fim de que isto
aconteça, não é preciso profetizar: “Assim diz o Senhor”. É simplesmente o
caminho natural das coisas. A vida é planejada de tal maneira que o único
crescimento e desenvolvimento possível surge de situações onde somos
diretamente confrontados por tensões e obstáculos deliberadamente plantados no
nosso caminho. Se não houver dificuldades e provações, ou se fugirmos delas,
não haverá crescimento. Haverá estagnação.
1 Samuel 20.1-4: “Então fugiu Davi da casa dos profetas, em
Ramá, e veio, e disse a Jônatas: Que fiz eu? qual é a minha culpa? E qual é o
meu pecado diante de teu pai, que procura tirar-me a vida? Ele lhe respondeu:
Tal não suceda; não serás morto. Meu pai não faz coisa nenhuma, nem grande nem
pequena, sem primeiro me dizer; por que, pois, meu pai me ocultaria isso? Não
há nada disso. Então Davi respondeu enfaticamente: Mui bem sabe teu pai que da
tua parte achei mercê; pelo que disse consigo: Não saiba isto Jônatas, para que
não se entristeça. Tão certo como vive o Senhor, e tu vives, Jônatas, apenas há
um passo entre mim e a morte. Disse Jônatas a Davi: O que tu desejares, eu te
farei.”
Isto é uma aliança! Jônatas estava falando numa situação
onde, como filho do rei, era o herdeiro do trono. Ele era uma celebridade na
nação. Davi estava se apagando. Logo seria exilado. No entanto, Jônatas
entendia o significado de uma aliança. Ele sabia que quando você “corta” uma
aliança com alguém, não é só para as horas de tranqüilidade ou felicidade.
Quando você corta uma aliança com alguém e derrama o sangue dos animais
sacrificiais, está dizendo: “Eu comprometo a minha vida com você até a morte!” E
posso lhe garantir que nestes dias precisamos de compromissos desta natureza!
Precisamos examinar o relacionamento de Jônatas com Saul sob
dois aspectos. Em primeiro lugar, quanto à família, e em segundo, quanto à sua
posição oficial. Quanto à família, ele era filho de Saul, e isto requeria um
relacionamento de filho para pai. Mas quanto à sua posição oficial, Saul era
rei de Jônatas. E Jônatas via seu pai como rei, um rei abandonado por Deus. Por
isto ele tinha que se equilibrar numa corda esticada, numa posição muito fina e
delicada. Saul representava o governo de um homem que sobressaía de todo o povo
um ombro acima, mas que era destituído do Espírito de Deus. Jônatas reconheceu
em Davi o rei ungido por Deus. E ele sabia que já não havia esperança para seu
pai.
Por isso, Jônatas fez uma escolha. Ainda que Saul fosse seu
pai, ele resolveu se identificar com Davi e participar da mesma sorte com ele.
Cortou uma aliança com Davi – mas ao mesmo tempo ele tinha que se equilibrar
numa corda esticada, pois continuou morando na corte de seu pai e comendo na
mesa real. Ele era o herdeiro de um trono, no entanto fizera uma aliança de
sangue com um homem que em breve seria banido da sua pátria. Jônatas se
equilibrou naquela corda esticada de uma forma admirável!
E assim Jônatas disse a Davi: “O que tu desejares, eu te
farei”. Agora é hora de pôr os pés no chão, é hora do arrocho, onde os nossos
compromissos de aliança serão testados e desafiados. Estaremos dispostos a
manter firmes os nossos relacionamentos e compromissos, mesmo quando os perigos
e desafios nos confrontarem cara a cara? É muito bom manter uma aliança no meio
da tranqüilidade, quando tudo é fácil. Mas quando seu irmão está enfrentando um
problema, quando está em dificuldade, você permanece firme ao seu lado?
Esta não tem sido uma característica dos nossos dias. Nossa
geração tem produzido uma safra de violadores de alianças e compromissos,
pessoas que não entendem a natureza da lealdade, pessoas que venderiam seus
companheiros em troca de uma posição política ou de uma vantagem pessoal! E
Deus está trazendo à existência uma sociedade e uma cultura alternativas que
irão reintroduzir o significado de integridade e lealdade entre os homens num
mundo destinado a ser controlado por um governo moral.
Uma vez que desaparecem a integridade e a lealdade, tudo o
mais se desintegra. Alguém disse certa vez que se Deus falasse uma mentira,
todo o universo imediatamente se desintegraria! As estrelas cairiam do céu, o
sol deixaria de brilhar, e todos os átomos se partiriam e se espalhariam pelo
universo. Por quê? Porque ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu
poder (Hb 1.3)! E se aquela palavra não for uma palavra pura, se não for uma palavra
testada, se não for uma palavra de veracidade e integridade, então todo o
universo desmoronará. Mas atrás deste universo há uma palavra, e é a palavra de
Deus que não pode mentir! Ela sustenta o universo, e sustenta o homem que se
ampara firmemente nela. E Deus há de confirmar a sua integridade ao mesmo tempo
em que você confirma a integridade divina.
1 Samuel 20.8: “Usa, pois, de misericórdia para com o teu
servo, porque lhe fizeste entrar contigo em aliança no Senhor.” Davi está
lembrando a Jônatas que eles estão numa aliança no Senhor. Que o Senhor está
vigiando. Que o Senhor participa desta aliança. Isto não era apenas uma
combinação humana. Eles precisavam se relacionar com integridade.
Davi tinha certeza que Saul queria matá-lo. Jônatas não acreditava
nisto, mas estava começando a descobrir que era verdade. E Jônatas, querendo
proteger Davi do seu pai, disse-lhe: “Vem e saiamos ao campo. E saíram. E disse
Jônatas a Davi: o Senhor, Deus de Israel, seja testemunha. (Note outra vez a
participação de Deus nesta aliança.) Amanhã, ou depois de amanhã, a estas horas
sondarei a meu pai; se algo houver favorável a Davi, eu to mandarei dizer. Mas
se meu pai quiser fazer-te mal, faça com Jônatas o Senhor o que a este
aprouver, se não to fizer saber eu” (1 Sm 20.11-13).
Vamos observar uma coisa aqui. A impressão é que não houve
perfeita confiança um no outro. Mas creio que as palavras registradas em Mateus
18 vão ressoar na igreja hoje como uma das mensagens principais desta hora. Diz
aí que se o seu irmão pecar contra você, vá a ele. Em outro lugar diz que se
seu irmão pecar, repreenda-o, e se ele se arrepender, perdoe-lhe (Lc 17.3). Nós
temos falhado nesta nossa responsabilidade de confrontar uns aos outros com
amor para lembrar nosso irmão da natureza do relacionamento que existe entre
nós.
E Jônatas disse a Davi: “Se meu pai quiser fazer-te mal,
faça com Jônatas o Senhor o que a este aprouver, se não to fizer saber eu, e
não te deixar ir embora, para que sigas em paz” (1 Sm 20.13). Ele estava
dizendo a Davi: “Se tudo estiver bem na minha casa, e meu pai não tiver
intenção de matá-lo, então enviarei um mensageiro e você pode voltar como se
nada tivesse acontecido. Mas se houver um plano de lhe fazer mal então
arriscarei a minha própria vida para vir lhe avisar, a fim de que você possa
saber a verdade e escapar da situação.” Isto é relacionar-se com integridade
diante de Deus!
Jônatas prometeu vir a Davi, arriscando sua própria vida, e
depois pergunta: “Se eu então ainda viver, porventura não usarás para comigo da
bondade do Senhor, para que não morra?” (v.14). Por que Jônatas fez esta
pergunta? O que ele já sabia? Ele sabia, como descobrimos depois, que
certamente Davi seria o rei de Israel!
Mas não duvido por nenhum instante da motivação de Jônatas.
Esta aliança fora “cortada” na base do amor. E seja qual for o conhecimento que
Jônatas tinha, ele estava disposto a arriscar sua própria vida em favor daquela
causa. Ao mesmo tempo que sabia que Davi seria rei, ele estava preparado também
para se expor à ira de seu pai. Se Saul o tivesse visto saindo do palácio para
avisar Davi, ele teria matado o seu filho assim como mataria um outro qualquer.
Era esta a natureza dos antigos monarcas absolutos. Sem dúvida o teria matado!
Portanto, não questione a motivação de Jônatas. O que Jônatas estava dizendo
era: “Se eu permanecer vivo, você não me mostrará a bondade do Senhor, para que
eu não morra?”
A AMPLIAÇÃO DA ALIANÇA
E ainda no versículo 15: “Nem tão pouco cortarás jamais da
minha casa a tua bondade”. Agora a aliança está sendo ampliada e renovada. Até
agora eles tiveram um relacionamento adequado, mas chegou a hora de
fortalecê-lo a fim de capacitá-lo a suportar tensões e pressões ainda maiores.
À medida que um relacionamento de aliança se desenvolve, você descobrirá que
ele adquire uma capacidade cada vez maior de suportar as pressões.
“Nem tão pouco cortarás jamais da minha casa a tua bondade;
nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a todos os inimigos de Davi”
(v.15). Ele estava dizendo: “Eu sei que todos os seus inimigos serão cortados.
É possível que eu também morra ao cumprir a minha parte da aliança. Posso
morrer ao protegê-lo da ira de meu pai. Mas, Davi, será que poderíamos fazer
uma aliança entre as nossas casas? Se eu viver (1 Sm 23.17), você será rei e eu
estarei com você, e meu pai sabe disto.”
Esta era a grande esperança de Jônatas, o seu sonho. Eu
também tenho grandes esperanças. Tenho os meus sonhos. Um homem que não sonha
não vale o que come. Aquele que não sabe usar a sua imaginação santificada para
projetar as suas mais altas esperanças já está meio morto! Eu tenho os meus
sonhos! Tenho uma visão! Vejo algo que acontecerá na terra! E tenho um
pressentimento que é possível eu não viver para presenciar o seu cumprimento.
Mas isto não me impede de sonhar.
Jônatas tinha os seus sonhos. Ele sabia que seu pai havia de
cair. Sabia que Davi seria rei. E esperava estar ao seu lado, governando Israel.
Este era o seu sonho. E se ele morresse, protegendo o seu irmão de aliança? Ele
queria neste caso uma promessa do seu irmão de aliança que se algo lhe
acontecesse, Davi cuidaria da sua família; e da mesma forma ele estava disposto
a cuidar da família de Davi, se este viesse a falecer.
E desta forma, ampliaram a sua aliança. “Assim cortou (fez)
Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: Vingue o Senhor os inimigos de
Davi. Jônatas fez jurar a Davi de novo, pelo amor que este lhe tinha, porque
Jônatas o amava com todo o amor de sua alma” (vv.16,17).
Vejo aqui mais um quadro daquilo que precisa ser realidade nestes
dias. Estamos entrando, como igreja, numa nova fase de relacionamento de
aliança nesta hora. Há alguns mais adiantados que já estão praticando a vida em
comunidade. Não vou comentar aqui sobre comunidade. Mas creio que Atos 2 e Atos
4 contêm o espírito imutável de um sólido cristianismo de aliança. E este
espírito diz: “Na hora da crise, o que eu possuo pertence a você, e temos todas
as coisas em comum”.
Não sou contra a iniciativa particular. Não estou dizendo
que você não pode ter a sua própria conta bancária. Estou falando que o
espírito de aliança diz: “O que é meu é seu, e o que é seu é meu; na hora da
crise, não haverá um segundo de hesitação. Compartilharei tudo que eu tiver com
você! Você compartilhará comigo. Consideramos todas as coisas que Deus nos deu
em comum, pois ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo
e os que nele habitam. Nós somos mordomos desta terra que lhe pertence. E
podemos compartilhar uns com os outros tudo que é dele.”
A EMOÇÃO DE ALIANÇA
Portanto firmou-se uma aliança entre as duas casas. Agora
vejamos no versículo 30: “Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e
disse-lhe: Filho de mulher perversa e rebelde; não sei eu que elegeste o filho
de Jessé, para vergonha tua e para vergonha do recato de tua mãe.” Isto era uma
coisa horrível para dizer a um filho, especialmente quando entendemos as
implicações desta frase. “Pois enquanto o filho de Jessé viver sobre a terra
nem tu estarás seguro, nem seguro o teu reino” (v.31).
Você é capaz de perceber aqui uma tentativa sutil para
dividir Davi de Jônatas? “Você não sabe que enquanto Davi estiver vivo, o seu
trono está em perigo?” Mas Jônatas não pensava assim, porque não considerava
mais o trono como seu. Ele pensava no “nosso” trono. Quando você entra num
relacionamento de aliança, não é mais uma questão do meu ministério. É o nosso
ministério. Não é mais a minha reputação. É a nossa reputação. Davi e Jônatas
tinham um relacionamento de aliança que comparavam sem hesitação a um
casamento. Pois o seu amor ultrapassava o amor de mulheres!
1 Samuel 20.32-34: “Então respondeu Jônatas a Saul, seu pai,
e lhe disse: Por que há ele de morrer? Que fez ele? Então Saul atirou-lhe com a
lança para o ferir; com isso entendeu Jônatas que de fato seu pai já
determinara matar a Davi. Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da
mesa, e neste segundo dia da lua nova não comeu pão, pois ficara muito sentido
por causa de Davi, a quem seu pai havia ultrajado.”
Agora Jônatas foi, como prometera, avisar a Davi. E chegamos
àquilo que eu chamo de “emoção de aliança”. E quero que você recorde que tanto
Davi como Jônatas eram homens de guerra. Eram homens de coragem, homens de
bravura. E digo isto para que leiamos esta passagem com um entendimento claro
das pessoas que vemos aí.
V. 41: “Indo-se o rapaz, levantou-se Davi do lado do sul, e
prostrou-se rosto em terra três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram
juntos, Davi, porém, muito mais.” Isto é emoção de aliança. Sempre, em todas as
épocas, foi errado o homem chorar. Sempre foi errado o homem demonstrar
qualquer espécie de emoção. Ele devia ser estóico e impassível. Ele chora só
por dentro.
Mas não creio nisto. Creio que há uma expressão válida de
emoção num relacionamento de aliança. Quando você está atravessando provações,
problemas e dificuldades, você pode chorar com seu irmão sem acanhamento,
misturando as suas lágrimas com as dele e tendo os braços fortes e afetuosos do
seu irmão ao seu redor, transmitindo-lhe coragem e força.
Vv.42,43: “Disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto
juramos ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja para sempre entre mim e
ti, e entre a minha descendência e a tua. Então se levantou Davi, e se foi, e
Jônatas entrou na cidade.”
Emoção de aliança. Nós precisamos saber que é bom chorar
juntos. Precisamos entender que quando enfrentamos uma crise juntos, não
precisamos ser estóicos. Não precisamos fazer de conta que não sentimos nada.
Podemos nos desprender em lágrimas e emoções. Vejo os presbíteros de Éfeso
abraçando e beijando calorosamente a Paulo; e os irmãos de Cesaréia chorando e
implorando-lhe para não subir a Jerusalém; até que ele respondesse: “Que fazeis
chorando e quebrantando-me o coração?” (At 21.13). Mas eles sabiam que não mais
veriam Paulo face a face.
Através de toda a Bíblia encontro horas em que se devia
gritar, horas em que se devia chorar, horas em que se devia rir. Todas as
emoções humanas são válidas em Deus! Deus não quis que suprimíssemos nossas
emoções – elas têm a sua manifestação legítima. E que hora mais própria para o
choro que quando choramos com um irmão de aliança que está atravessando uma
hora de crise, e comprometemos nossos corações um ao outro?
O FIM DA HISTÓRIA
Em 1 Samuel 23.14-18, Davi descobriu que Saul estava
procurando matá-lo outra vez enquanto ele se refugiava no deserto de Zife.
“Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi a Horesa e lhe
fortaleceu a confiança em Deus” (v.16). Eu chamo isto de coragem, esperança e
persistência de aliança. “E lhe disse: Não temas, porque a mão de Saul, meu
pai, não te achará; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o
segundo; o que também Saul, meu pai, sabe bem” (v.17). E cortaram outra
aliança! Aleluia! No meio do perigo, lá no deserto, Jônatas sabia que a mão de
Deus estava sobre Davi, e ele vivia na esperança de poder participar da sua
vitória.
Agora, neste ponto preciso falar sobre uma questão que tem
perturbado muitos de nós. Eu não poderia passar por toda esta história do
relacionamento entre Davi e Jônatas e acreditar que se Davi tivesse pedido que
Jônatas deixasse Saul e permanecesse com ele, que Jônatas teria se recusado.
Por muito tempo falei que Jônatas fez tudo menos a coisa mais importante –
abandonar a casa de seu pai. Mas não creio mais nisto. Creio que ele teria
permanecido com Davi se este tivesse falado uma só palavra neste sentido.
Mas aparentemente tanto ele como Davi sentiam que Jônatas
deveria permanecer na casa de Saul. Ele seria o agente de Davi na corte de
Saul. Creio que temos prejudicado a imagem de Jônatas ao considerá-lo um homem
fraco ou temeroso, porque não se uniu ao bando de Davi. Creio que Jônatas
permaneceu na corte de Saul para servir de intermediário, mensageiro e
advogado. E ele literalmente deu a sua vida em favor de Davi. Não posso
aceitar, diante do entendimento que tenho agora de aliança, e diante do entendimento
que eles tinham de aliança, que Jônatas teria deixado de ficar com Davi, se ele
tivesse lhe pedido isto. Mas Jônatas entregou a sua vida.
E você diz: “Mas, irmão Baxter, este não é um final feliz da
sua história!” Aí está o problema. Todo romance tem que terminar em felicidade.
Mas esta é uma das maneiras em que nossa sociedade engana a si mesma. Quem
disse que toda história precisa ter um final feliz?
Quando falamos sobre aliança e a necessidade de entregar
nossas vidas uns pelos outros, não devemos limitar isto a palavras superficiais
e baratas! É possível que tenhamos que dar literalmente as nossas vidas uns
pelos outros. Jônatas deu a sua. Não foi um fim feliz da história – ele morreu
mesmo! Mas ao mesmo tempo, foi um fim feliz! Pois o fim não é a morte! Jônatas
vai estar em pé diante de Deus no dia do Senhor, com a cabeça bem erguida! Ele
vai tomar o seu lugar ao lado do progenitor do nosso Senhor, o grande rei de
Israel! E Davi vai olhar para ele com favor, enquanto permanecem juntos diante do
seu Deus.
Se houver alguma manifestação de emoção que ultrapassa estas
que nós conhecemos, Davi vai estender a sua mão e abraçar a Jônatas, dizendo:
“Jônatas, eu pensei em você todos os dias – quando sentei-me no meu trono,
quando fiz aliança com Judá, quando fiz aliança com todo o Israel, quando
marchávamos para Sião – nunca houve um dia em que você não estivesse no meu
coração: Eu o estava amando quando fui ao lugar alto, quando busquei a arca –
eu estava pensando em você, Jônatas! Que Deus o abençoe, Jônatas! Você me
salvou de seu pai, você deu a sua vida por mim!”
É verdade que alguns morrem; mas alguns de nós vivem porque
alguns de nós morrem!
Disse um pregador em 1948, nos dias do
avivamento chamado “Chuva Serôdia”, dias em que se falava muitas coisas
extravagantes e exageradas. Mas lembro-me deste pregador que dizia o seguinte:
“Glória a Deus, quando estourar este avivamento, todas as cadeias vão se abrir
e os cristãos serão libertados das suas prisões nos países comunistas”. Como
ele pintou um quadro espetacular! E as pessoas aplaudiam e diziam: “Aleluia!
Glória a Deus!”
Mas eu fiquei ouvindo e pensando: “Isto não está certo”.
Depois da reunião fui a ele, e disse-lhe: “Irmão, quero dizer isto com amor,
mas creio que você prejudicou o povo nesta noite. Quem sabe alguns dos seus
ouvintes serão presos pela sua fé. Eles vão ouvir os passos de um soldado
romano, como aconteceu com Paulo. Eles vão ter que colocar as suas cabeças na
pedra para serem cortadas. E aí eles vão dizer: ‘Ei, onde está Deus?’”
Creio que precisamos mostrar ao povo as possibilidades reais
no plano de Deus. É verdade que Deus tirou Pedro da prisão, sobrenaturalmente.
Mas Tiago foi decapitado. É maravilhoso pregar sobre a libertação de Pedro, mas
quantos já ouviram um sermão sobre a morte de Tiago?
Agora temos a lamentação da aliança, em 2 Samuel 1.24-27:
“Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de rica escarlata, que
vos punha sobre os vestidos adornos de ouro. Como caíram os valentes, no meio
da peleja! Jônatas sobre os montes foi morto! Angustiado estou por ti, meu
irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor,
ultrapassando o amor de mulheres. Como caíram os valentes, e pereceram as armas
de guerra!”
Meu irmão, nós vamos perder alguns dos nossos companheiros.
Tem que haver algo mais no cristianismo que isto que conhecemos atualmente.
Temos que experimentar o ferro nas nossas almas! Temos que estar preparados
para a realidade!
A LEALDADE DA ALIANÇA
“Sucedeu que, habitando o rei Davi em sua própria casa,
tendo-lhe o Senhor dado descanso de todos os seus inimigos em redor... disse
Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que use eu de
bondade para com ele, por amor de Jônatas?
...Então Ziba respondeu ao rei: Ainda há um filho de Jônatas, aleijado
de ambos os pés...Vindo
Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, a Davi,
inclinou-se prostrando-se com o rosto em terra” (2 Sm 7.1; 9.1-6).
Por que Mefibosete se prostrou? Porque a casa de Saul fora
exterminada, e ele era o último membro de uma casa rebelde. Quando ele se
prostrou, sabia que merecia morrer, pois era membro de uma casa rebelde. É
assim que nós nos aproximamos de Deus. Merecemos morrer; somos membros de uma
casa rebelde; somos aleijados de ambos os pés; não podemos fazer nada em favor
de nós mesmos – nem correr para Deus, nem correr dele!
2 Samuel 9.6,7: “Vindo Mefibosete... a Davi, inclinou-se
prostrando-se com o rosto em terra. Disse-lhe Davi: Mefibosete. Ele disse: Eis
aqui teu servo. Então lhe disse Davi: Não temas, porque usarei de bondade para
contigo, por amor de Jônatas, teu pai.” Creio que Davi disse isto com um nó na
sua garganta, pensando no jovem alto e ereto com quem ele havia cortado uma
aliança naquele dia distante, há tantos anos atrás; pensando no homem que
arriscara sua vida, sua reputação, sua coroa, e que no fim morrera no campo de
batalha com seu pai, tudo porque fizera uma aliança com Davi.
E olhando para esta pobre e débil criatura, aleijada de
ambos os pés, o remanescente de uma casa rebelde, ele disse: “Usarei de bondade
para contigo, por amor de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de
Saul, teu pai, e tu comerás pão sempre à minha mesa”. Isto é integridade de
aliança. Eu quase prefiro a palavra “lealdade” à palavra “amor”; pelo menos que
a usássemos por algum tempo para substituir a palavra “amor”. Pois Deus nos
está chamando à lealdade.
Vamos resgatar a lealdade do esquecimento. Coloquemos a
lealdade no vocabulário cristão mais uma vez. Demonstremos a integridade outra
vez diante dos homens! Que os homens notem que não zombamos uns dos outros
publicamente, nem expomos os defeitos dos nossos irmãos para os outros. Nós
cobrimos a nudez do nosso irmão, nós nos colocamos ao seu lado,
identificando-nos com ele. Podemos confrontá-lo em casa, mas lutamos em seu
favor no campo. Não o expomos diante dos inimigos dele e nossos!
Restauremos a lealdade! Restauremos a integridade!
Restauremos a coragem! Sejamos homens de Deus! Cortemos alianças uns com os
outros! E antes de cortar uma aliança, conheça a pessoa com quem você pretende
se comprometer. Pois quando você corta uma aliança com alguém, vocês estão
bebendo o sangue um do outro, estão empenhando as próprias vidas um pelo outro.
Vocês estão se comprometendo a entregar a vida um pelo outro.
Fonte: Ruach Ministries International / Por Ern Baxter
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