Amós é o contemporâneo mais velho de Miquéias e
Oséias e foi o primeiro dos profetas escritores. Seu nome significa “aquele que
leva cargas pesadas”. Amós era criador de gado e produtor de figos numa vila ao
sul de Jerusalém chamada Tecoa. Amós recusou-se a ser chamado de profeta
evidenciando a sua ruptura com as instituições formais de seu tempo: o palácio real e o
templo (7:14-15).
Essa independência institucional permitiu a Amós
proclamar a Palavra de Deus livremente sem nenhuma preocupação com a opinião
pública ou interesses escusos. Nada mais se sabe sobre Amós. Alguns eruditos
presumem que, após o pronunciamento de seus oráculos, tenha voltado para Tecoa,
editado e redigido suas palavras tal como as temos hoje. Outros ainda afirmam
que discípulos que o tenham seguido registraram seus oráculos.
Talvez o terremoto mencionado em 1:1 tenha
despertado Amós a publicar seu texto uma vez que o verso 9:1 parece indicar um
cumprimento parcial da profecia a Israel, isto é, a revelação do Senhor havia
sido dada dois anos antes do terremoto citado e a publicação dos seus oráculos
aconteceu em um momento posterior. Este terremoto provavelmente foi um
acontecimento de grandes proporções, pois fora lembrado dois séculos depois
como o “terremoto dos dias de Uzias” (Zc. 14:5).
O ministério de Amós aconteceu entre os anos de 760
a 750 a.C. durante o reinado de Jeroboão II no Reino do Norte (Israel) e de
Uzias no Reino do Sul (Judá). Este foi um período muito próspero para Israel e
Judá pois não havia a ameaça da Síria, que havia sido vencida pela Assíria
décadas antes. Por sua vez a Assíria também passava por problemas internos em
virtude dos conflitos com a Síria, e não apresentava mais perigo.
O resultado deste ambiente de estabilidade política
proporcionou condições para que os reis Jeroboão II (Israel) e Uzias (Judá)
expandissem novamente as fronteiras da Palestina chegando nos mesmos limites
dos reis Davi e Salomão (2 Rs. 14:25). Isso possibilitou a retomada do comércio
internacional e da agricultura proporcionando, desta forma, a estabilidade
econômica (Am. 4:1-3).
Entretanto, a segurança política e econômica
favoreceu apenas os comerciantes e a corte, pois o povo sustentava toda essa
estrutura por meio da injustiça social e escravidão. O resultado disso foi a
miséria do povo (2 Rs. 14:26; Am. 2:6; 8:6).
Ironicamente, a religiosidade era volumosa (Am.
4:4-5; 5:21-23), porém tornou-se mecânica e distante da presença real de Javé.
Amós, tal qual Isaías, enxergou além da superficialidade econômica e social que
beneficiava apenas alguns poucos em detrimento da pobreza de muitos (Is.
3:13-15). Da mesma forma, o profeta Oséias, 10 anos depois, condenaria de
maneira enérgica estes mesmos pecados.
Para Amós, a prosperidade agrícola serviu apenas
para comparar Israel com um cesto de frutas maduras, prontas para a execução do
julgamento divino (Am. 8:2-3).
Estrutura de Amós
O livro do profeta Amós pode ser estruturado da
seguinte maneira:
- Apresentação do tema – 1:1-2
- Os sete oráculos de julgamento contra as nações – 1:3 – 2:16
- Damasco – 1:3-5
- Gaza – 1:6-8
- Tiro – 1:9-10
- Edom – 1:11-12
- Amon – 1:13-15
- Moabe – 2:1-3
- Judá – 2:4-5
- Israel – 2:6-16
- Oráculos de julgamento contra Israel – 3:1 – 6:14
- Acusação – 3:1; 4:1; 5:1
- Ameaça – 3:11; 4:12; 5:16
- O conceito errado do Dia do Senhor – 5;18-27
- A falsa segurança material – 6:1-14
- As visões de julgamento de Israel – 7:1 – 9:10
- Primeira visão: a praga de gafanhotos – 7:1-3
- Segunda visão: o fogo devorador – 7:4-6
- Terceira visão: o prumo de Javé – 7:7-9
- O desafio de Amazias a Amós – 7:10-17
- Quarta visão: o cesto de frutas maduras – 8:1-3
- Interlúdio profético: mais oráculos de julgamento – 8:4-14
- Quinta visão: O Senhor junto ao altar – 9:1-10
- Promessas de restauração – 9:11-15
- Restauração do reino de Davi – 9:11-12
- Restauração material – 9:13-15
Embora fosse um homem do campo, o profeta Amós
possuía habilidade literária. Podemos perceber isso pela uso que o profeta faz
de ironias em sua retórica e pela fórmula x, x + 1 nos oráculos contra as
nações (Am. 1:3,6,9,11). Este padrão pode indicar que cada nação havia pecado
mais do que o suficiente para a execução do juízo divino, isto é, a
misericórdia do Senhor fora demonstrada e não tratava-se de uma ação arbitrária
de Javé. Todas as acusações contra as nações, incluindo Israel (Am. 2:6), eram
baseadas em crimes contra a humanidade. Apenas Judá foi acusada de rejeitar a
Lei e desobedecer os decretos da Aliança.
Outra característica literária de Amós são seus
oráculos visionários. O profeta realmente havia visto as palavras que deixou
registradas. Além disso sua mensagem era viva e vibrante, pois Amós falava
daquilo com o qual estava acostumado.
Entretanto Amós também utilizou-se da literatura
lírica (Am. 5:1-2) e de doxologias (glorificação de Deus) (Am. 4:13; 5:8-9;
9:5-6) mostrando sua aptidão poética e musical. Esses trechos podem ainda ser
canções da época.
Fórmulas de juramento (O Senhor, o soberano, jurou
– 4:2), de proclamação (Ouçam – 4:1) e revelação (o Senhor, o soberano, me mostrou
– 7:1) são frequentemente usadas e padronizadas.
O livro é composto por quatro seções fundamentais:
- Oito oráculos contra as nações – 1:3 a 2:16
- Cinco profecias – 3 a 6
- Cinco visões proféticas – 7:1 a 9:10
- Restauração de Israel – 9:11-15
A dinâmica do livro é dada pelos oráculos contra as
nações e Israel provavelmente se surpreende por ouvir seu nome entre os
culpados. A surpresa aumenta nos capítulos seguintes pois o tom é mudado de
ameaça para a certeza do juízo divino (Am. 6:7).
Esses oráculos condenatórios foram dirigidos para a
corte real (governo), a nobreza (empresários) e para o sacerdócio (religiosos).
Cada oráculo é composto das características comuns da denúncia profética:
- Fórmula do mensageiro de Javé: “Assim diz o Senhor”
- Apontamento do pecado
- Transição: “por isso”, “eis que”, “portanto”
- Ameaças de julgamento
- Anúncio da punição
Neste caso específico, Amós se dedicou a destacar
os crimes propriamente ditos, com detalhes impressionantes. A série de
sentenças estão em: Am. 2:13-16; 3:12-15; 4:12; 5:16-17; 6:7-11.
A partir do capítulo sete, com as visões, a
acusação sai de cena para a ênfase no julgamento. Agora o livro passa a
descrever longos julgamentos com a descrição detalhada dos pecados para
justificar a punição inevitável.
Como toda palavra profética, Amós termina seus
oráculos com salvação e restauração. Entretanto, a salvação não substituiria a
punição, mas viria após a punição. O reino de Davi seria restaurado como
cumprimento da promessa a Davi (2 Sm. 7; Am. 9:11-12).
Propósito e conteúdo
O livro de Amós aborda os seguintes temas:
- Javé cobra as nações sobre sua política social
- A justiça social é resultado da verdadeira adoração
- O julgamento de Javé também atingirá Israel
- Javé restaurará um remanescente de Israel
O quadro de idolatria e injustiça social levaram
Amós a sair de Judá, Reino do Sul, para Israel, Reino do Norte. O resumo de sua
mensagem está registrado no verso 8:2.
Amós transmite seus oráculos de forma lógica e
ordenada, por meio de quatro mensagens, fundamentadas no julgamento e exílio de
Israel, conforme abaixo:
- Primeira mensagem (2:6-16): O pecado de Israel é apontado e a consequência será a sua destruição como cumprimento da desobediência à Aliança. Israel achava que o Senhor não puniria seu povo; logo, Amós desmistificou esta visão que os israelitas tinham de Deus.
- Segunda mensagem (3:1 – 6:14): A injustiça social e a falsidade religiosa são condenadas. Amós apela ao povo para que se arrependam e retornem aos padrões da Aliança. A ideia do Dia do Senhor como um dia de bênção também é corrigida (Am. 5:18-20).
- Terceira mensagem (7:1 – 9:4): Para confirmar os oráculos do profeta, são apresentadas cinco visões que destacam a ira e o julgamento do Senhor contra Israel e a certeza de sua destruição.
- Quarta mensagem (9:5-15): Término do ministério de Amós e a esperança da restauração de Israel como prova do amor do Senhor é anunciada. O julgamento não duraria para sempre.
Justiça Social
Amós resgatou as estipulações da Aliança que
incluía o aspecto ético em relação do próximo como parte do amor a Deus. Por
isso ele apela em favor de todos os pobres, injustiçados e oprimidos pelos
ricos, comerciantes desonestos, líderes corruptos, juízes sem escrúpulos e
falsos sacerdotes (4:1; 6:1,4; 7:8-9).
Amós fornece diretivas essenciais para a ação
social da Igreja na comunidade onde está inserida. De acordo com Amós, o povo
escolhido de Deus deve primar pela justiça social como um aspecto essencial da
Aliança.
Ensino sobre serviço e ação social em Amós
|
|
Serviço
social
|
Ação
social
|
Alivio
da necessidade humana (5:12)
|
Remoção
da necessidade humana (8:4-6)
|
Atividade
de filantropia (4:5; 6:4-7)
|
Atividade
política e econômica (5:10,11,15)
|
Ajuda
individual e familiar (4:1; 5:6-7)
|
Transformação
das estruturas da sociedade (4:4-5; 7:7-9)
|
Obras
de misericórdia (4:1; 6:4-7)
|
Busca
pela justiça (2:6-8; 5:7,24; 6:12)
|
HILL, Andrew & WALTON, John. Panorama do Antigo
Testamento, p. 539.
Javé como Deus supremo
Não podemos apenas associar Amós com seu clamor
pela justiça social. O profeta clama por justiça a partir do seu elevado senso
ético da Aliança de Javé com seu povo, que passava pelo amor ao próximo.
Para Amós, a injustiça social era reflexo da falta
de importância que os israelitas deram às estipulações da Aliança, e, antes de
não amarem ao próximo, na realidade, não amavam a Deus em primeiro lugar.
Os crimes contra a humanidade, que foram condenados
em todas as nações eram pecado contra o próprio Criador de todos os seres
humanos.
FONTE: http://milhoranza.com
FONTE: http://milhoranza.com
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