Deus está mostrando a quem quiser saber, que seus planos para sua criação não
foram descartados. Pelo contrário, seu grandioso desígnio ainda permanece de
pé, e nestes últimos anos tem surgido uma gama muito variada de dons concedidos
à igreja a fim de que ela cumpra a sua tarefa.
Ao lado dos dons de cristo (Efésios 4:7) provados
e testados do pastor e do mestre, tem surgido o dom profético que, embora seja
recebido com cautela em muitos setores, está ganhando mais confiança. Até mesmo
a palavra “apostólico” não é inconcebível em nossos dias e pode ser sussurrada
em algumas fortalezas tradicionais outrora inexpugnáveis, crescendo em nosso
meio os cincos ministérios (Efésios 4:11), para o crescimento sadio da igreja ( Efésios 4: 12-15).
Os dons de cura, libertação e outros estão
gerando expectativas nas pessoas por milagres de tal forma que serão, sem
dúvida, precursoras da fé. Além de tudo isto, em cada novo dia vê-se uma nova safra
de dons espirituais sendo colhida por aqueles que têm a simplicidade de
recebê-los. A superfície tranqüila da igreja está sendo perturbada pelas
pessoas que falam em línguas estranhas para expressar o louvor recém-descoberto.
Então nos deparamos com os problemas. Pesoas
que já nos abençoaram e nos desafiaram através de seus livros que atestava a
confirmação miraculosa de Deus sobre o seu ministério, agora estão sequestrando
as almas das pessoas, e ao invés de edificar a igreja está sujeitando muitos à
escravidão e a idolatria.
Descobrimos que aquele homem maravilhosamente
espiritual que assistimos em conferência, e que trouxeram cura a tantos relacionamentos
quebrados através de profecias pessoais e discernimentos espirituais, agora
está divorciado e vivendo com sua secretária.
E muitos que receberam cura e
libertação através dessas pessoas são atacados por satanás por sentimentos de
duvidas e incredulidade e dizem: “Havia algo estranho nos olhos daquele sujeito
que profetizou sobre nós. Nunca mais quero vê-lo.” E assim, ao bloquear sua
mente, este homem está em perigo de rejeitar uma profecia que poderia salvar o
seu próprio casamento.
Como devemos pensar nestas situações?
Como podemos compreender a contradição de um Dom divinamente concebido sendo
exercido por uma pessoa com caráter duvidoso?
É estranho, mas a pergunta contém a
chave da resposta, a saber, a separação destes dois aspectos: caráter e dom. É
a confusão desses dois que nos leva a crer que manifestações sobrenaturais são
evidência de caráter piedoso. Na realidade, os dons que Deus concede às pessoas
não são necessariamente uma prova da sua integridade.
Podemos entender isto com bastante
clareza se considerarmos talentos “naturais”, como por exemplo dons musicais. A
capacidade divinamente concedida de tocar piano pode ser empregada para
promover o bem ou o mal. O Senhor não tira a capacidade de cantar quando alguém
usa sua voz para promover o mal.
A confusão surge porque no nosso
pensamento temos feito uma divisão entre dons naturais e sobrenaturais. Temos a
tendência de pensar que receber uma capacidade sobrenatural é uma espécie de
galardão, um selo divino de aprovação sobre a qualidade de vida de uma pessoa.
Mas não necessariamente e assim.
Quando reconhecemos a diferença entre
caráter e dom podemos compreender algo que há muito nos perturba. Observamos aparentemente
que em algumas igrejas praticamente mortas, há alguns cristãos mais idosos cuja
comunhão íntima com Deus era evidente e cujo caráter era irrepreensível, mas
que mesmo assim não produziam nenhum efeito visível sobre a situação na igreja
no sentido de revivificá-la.
Caráter sozinho não edifica coisa
alguma. Antes, caráter é o alicerce sobre o qual os dons realizarão a tarefa.
Por outro lado, se empregamos nossos dons para edificar sem o alicerce do
caráter, o que edificamos será inseguro e provavelmente desmoronará. Isto
explica alguns “homem maravilhosamente espiritual” que tenta edificar o reino
de Deus nas vidas das pessoas através das capacidades sobrenaturais que Deus
lhe deu, e conseguiu até certo ponto. Mas ele estendeu suas operações além dos
limites do alicerce do caráter na sua própria vida e como resultado se
arruinou.
Quando reconhecemos a distinção entre
caráter e dom podemos ver a necessidade de ter os dois trabalhando juntos. O
ideal é que isto aconteça em cada indivíduo. Mas há também a possibilidade de
uma pessoa com dons reconhecer uma fraqueza no seu caráter, e mesmo assim ser
liberada para funcionar na igreja por estar ligada a outras pessoa que, apesar
de não possuírem o mesmo dom, têm a integridade de caráter necessário para exercer
uma sábia supervisão sobre o seu funcionamento. Este é um outro aspecto do
corpo de Cristo, um grupo de pessoas relacionadas entre si que descobriram na
prática que precisam umas das outras, e não só porque leram sobre isto nas
Escrituras. Celebridades independentes e estrelas errantes não é o que Deus
está procurando na igreja.
Precisamos de pais, “cobertura” de
outros irmãos para nos orientar no exercício de nossos dons a modo a evitar os
problemas que eles possam causar por falta de maturidade.
É importante não reagir para o outro
extremo quando as coisas dão errado. É fácil demais dispensar dons dados por
Deus como sendo “do diabo”. Às vezes, evidentemente, pode haver um espírito
errado na motivação, mas vamos discernir entre esta situação e uma outra onde
simplesmente houve falta de sabedoria. Se houver necessidade de correção, vamos
procurar tratar com o caráter e não com o dom. Pode ser necessário aconselhar
que o exercício do dom seja suspenso por um tempo, mas que isto venha do desejo
de vê-lo usado com maior efeito ainda e não porque nos sentimos ameaçados por
ele.
A igreja de hoje precisa produzir um impacto sobre o mundo, ela precisa
ser pelo menos tão espetacular quanto a igreja primitiva, e provavelmente mais
do que ela.
Eu anseio por ver o aumento de dons
poderosos, não para formar organizações evangelísticas ou cruzadas de cura
divina, mas para trazer a cura para a cena de um acidente; para expulsar
demônios no meio de uma multidão num centro comercial; para levantar uma voz profética
nos meios de comunicação, especialmente na televisão, que seja tão diferente
dos programas evangélicos atuais quanto o seria um filme de horror, a fim de
criar mais uma vez no povo a consciência da realidade de Deus.
Minha oração é que o Senhor crie em
mim uma profundidade de caráter que sirva como âncora para os dons mais significativos.
Que eles nos edifique para formar uma comunidade de pessoas íntegras que possam
desafiar os padrões ímpios dos nossos dias com recursos sobrenaturais.
Fontes:
Estudo pessoal;
Biblia sagrada;
Biblia sagrada;
Artigo de Nick Butterworth.