sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ALIANÇA: A HISTÓRIA DE DAVI E JÔNATAS



Uma das passagens mais conhecidas de toda a Bíblia é João 3.16. Através dela podemos ver a intervenção vertical de Deus na história da humanidade: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Em 1 João 3.16, temos a afirmação correlata, que trata dos nossos relacionamentos horizontais: “Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos”.

Ninguém duvida do amor de Deus por nós. A demonstração histórica deste amor foi expressa quando Deus entregou-se a si mesmo através de Cristo Jesus. Agora ele diz: “Nós devemos dar nossa vida pelos irmãos”. Ele não faz nenhuma distinção entre o fato real de Cristo ter dado a sua vida e a ordem para entregarmos as nossas vidas. São dois atos de uma mesma espécie.

É verdade que não posso dar a minha vida por você numa morte vicária ou substitutiva, mas posso fazer isto por causa de uma aliança. Em ambos os casos a qualidade da entrega é a mesma. Jesus Cristo provou a extensão do amor de Deus quando morreu literalmente por nós. E a Palavra nos diz que é isto que se espera de nós no nosso espírito e atitude ainda que não seja necessário dar nossa vida na prática. Mas quando eu digo: “Mesmo que não seja necessário”, corro o risco de estar acrescentando algo perigoso à Escritura. Pois será que nos nossos corações nós realmente cremos que há possibilidade de sermos chamados para fazer esta entrega literal da nossa vida? Creio que precisamos reconhecer que estamos vivendo numa época muito séria. As nações estão em tumulto – e estamos nos aproximando do verdadeiro clímax da história, com todos os seus transtornos e desafios. Precisamos estar preparados para fazer alguns sacrifícios muito reais.


O QUE SIGNIFICA UMA ALIANÇA?


Para falar do amor horizontal de uma aliança entre irmãos, quero usar a ilustração de Davi e Jônatas. Quando Davi e Jônatas se encontraram pela primeira vez, eles viviam num contexto de aliança. Ambos entendiam bem a natureza da aliança de Deus com Israel. Conheciam a história dos tratamentos e disciplinas que Israel recebeu de Deus nesta aliança. Conheciam a aliança de Deus com Abraão (Gn 17.1-16). Conheciam a aliança de Deus com a nação de Israel (Êx 19.5-6).

Quando Moisés tomou sangue e o aspergiu no livro, e depois tomou o restante e o atirou sobre a congregação, havia sangue no livro, sangue no povo e sangue em todo lugar (Êx 24.3-8; Hb 9.19-22). Aquele povo entendia a natureza de uma aliança. Eram homens que viviam numa sociedade que entendia o significado da aliança. Entendiam como estabelecer uma aliança; entendiam o que significava quebrar uma aliança; conheciam as regras e os regulamentos, as disciplinas e as penalidades que acompanhavam uma aliança.

Creio que nós temos a desvantagem de não compreendermos a natureza de uma aliança. E esta falha está relacionada com o sentimentalismo mole e insípido que normalmente caracteriza a introdução na fé cristã. Temos uma iluminação delicada, música suave do órgão, e o convite: “Venha a Cristo e ele se tornará seu amigão!”

No princípio não era assim! Jesus reuniu os seus discípulos e instituiu a ceia do Senhor no contexto sangüinolento da celebração da páscoa. Ele o fez à sombra da sua própria cruz que se lhe aproximava. Ele tomou aquele cálice e viu no seu conteúdo vermelho o seu próprio sangue! E quando ele o deu aos seus discípulos, ele estava dizendo: “Isto os ligará a mim e os ligará uns aos outros. Ele é o sangue de uma nova aliança que tem todas as qualidades da velha aliança; só que é um sangue melhor, com melhores esperanças, com melhores promessas e com um futuro melhor; no entanto, vocês precisam entender que isto é um negócio sangüinolento!”

Quando Davi e Jônatas fizeram aliança entre si, eles não estavam fazendo algumas promessas sentimentais. Não estavam trocando anéis de amizade. Quero que você entenda como eles se relacionaram como agiu um com o outro e com o Senhor.

1 Samuel 20.8: “Usa, pois, de misericórdia para com o teu servo, porque lhe fizeste entrar contigo em aliança no Senhor.” Não era apenas uma aliança entre Davi e Jônatas. Eles sabiam o que estavam fazendo.

Versículo 12: “E disse Jônatas a Davi: o Senhor, Deus de Israel, seja testemunha.” Ele introduziu Deus neste assunto, porque sabia qual era o significado daquilo que os dois estavam fazendo.

Versículo 42: “Disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto juramos ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja para sempre entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua.” Eles compreendiam bem a dimensão divina que existia na sua aliança horizontal.

1 Samuel 23.18: “E ambos fizeram aliança perante o Senhor.”

2 Samuel 9.3: “Disse-lhe o rei: Não há ainda alguém da casa de Saul para que use eu da bondade de Deus para com ele?”

A aliança de Davi com Jônatas era tão intimamente ligado ao seu relacionamento com Deus, que quando ele cumpriu a sua parte desta aliança, ele falou que estava usando a “bondade de Deus”. Portanto, eles sabiam muito bem o que estavam fazendo.


ALIANÇA – UM RELACIONAMENTO ESPECÍFICO


Agora vamos expor nossos corações para aquilo que se passou entre Davi e Jônatas. 1 Samuel 18.1: “Sucedeu que acabando Davi de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma.”

Deixe-me dizer algo aqui. É impossível uma pessoa ter um relacionamento de aliança, que seja realmente significativo, com toda a comunidade redimida do mundo todo. Não há nenhuma possibilidade prática para isto. Em outras palavras, cada pessoa precisa conhecer seu lugar de responsabilidade como cristão. Quando alguém diz: “Bem, eu sou um membro do corpo de Cristo, da igreja universal”, na realidade ele está dizendo que não pertence a nada! Significa que ele não tem compromisso algum e que não tem responsabilidade prática em igreja alguma!

Na maioria dos casos, isto constitui apenas uma desculpa para não se envolver num relacionamento de responsabilidade, onde a pessoa terá que se desenvolver em Deus. Eu poderia dizer ainda mais que uma pessoa nunca amadurecerá em Deus e provavelmente vai murchar e secar-se rapidamente, se ela não entrar num relacionamento significativo com outros cristãos no contexto de um corpo de pessoas que estejam crescendo e prosseguindo em conjunto. Eu não posso amadurecer sozinho! Preciso amadurecer numa comunidade.

Quero repetir: Não posso estabelecer uma aliança com todo mundo! E a Bíblia diz que a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi. O Novo Testamento diz que somos vinculados uns aos outros (Cl 2.19). Portanto eu preciso ser ligado e vinculado a alguém. Não posso ser ligado a todo o mundo. A quem você está ligado? Porque eu sei precisamente a quem estou vinculado no corpo.

Agora, o fato de eu ser ligado especificamente a algumas pessoas não significa que não esteja satisfeito com meu relacionamento amplo com todos os cristãos em todos os lugares. Mas é impossível manter um relacionamento de aliança com todos os cristãos do mundo. Preciso ter um vínculo específico com algumas pessoas, com as quais eu possa desenvolver um relacionamento real e prático num processo progressivo de amadurecimento no Senhor. Tem que haver um vínculo específico entre nós. A alma de Jônatas foi ligada à alma de Davi. Creio que esta ligação, mesmo naquela época distante, foi uma obra divina. E hoje, será uma obra ainda mais excelente, pelo fato desta aliança ser melhor que a antiga.

Os sociólogos ensinam que cada pessoa pode ter um relacionamento significativo com apenas doze pessoas, no máximo. Os cientistas mostram que na estrutura atômica do universo, o número máximo de átomos que podem ter contato direto entre si é doze! “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem... sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20).

Deus colocou na própria estrutura atômica do universo esta verdade: somente doze átomos podem ter um relacionamento significativo uns com os outros. Compreendi então porque houve doze tribos. Compreendi porque houve doze apóstolos. Compreendi porque doze é o número de governo na Bíblia.

Não posso ter um relacionamento de aliança que seja significativo com todo o mundo. Mas se eu realmente alcançar um relacionamento significativo, genuíno e real com doze pessoas, este relacionamento poderá ser projetado, ampliado e multiplicado, e aonde eu encontrar um membro da comunidade da aliança, da comunidade redimida, universal, vou saber imediatamente como me relacionar com ele. Através da maturidade do meu relacionamento específico surgirá uma integridade que será manifestada em todos os lugares onde eu encontrar o povo de Deus. À medida que mantenho e desenvolvo os meus relacionamentos de aliança na minha região específica, estou me preparando para ser um homem de Deus em qualquer lugar onde eu estiver junto com o povo de Deus através de toda a face da terra.


O PRINCÍPIO É GLORIOSO


Vimos que a aliança de Deus conosco foi alicerçada no seu amor sacrificial e na doação da sua própria vida. Da mesma forma, descobriremos que quando a alma de Jônatas foi ligada à alma de Davi, Jônatas o amou como à sua própria alma. E depois disto, Saul o tomou e não lhe permitiu que voltasse para sua casa (1 Sm 18.1,2).

Nestas alturas as coisas estão indo bem. Tudo está favorável. Jônatas amava a Davi, e os dois estabeleceram entre si uma aliança. Davi era um homem popular, pois já alcançara várias vitórias espetaculares, livrara o exército israelita de vergonha e opróbrio, e atingira uma posição de alta estima na corte do rei Saul. Até agora, como moço ainda jovem e corajoso, sempre envolvido em algum ato de proeza ou heroísmo, ele não constituía nenhuma ameaça ao reinado de Saul. E desta forma, Saul se alegrou em convidá-lo a participar da sua corte. Afinal, é conveniente ter um indivíduo assim por perto – uma hora ele poderá ser útil.

Por que estou falando sobre isto? Porque firmar uma aliança com alguém é um ato que muitas vezes se torna muito fácil e cômodo, mesmo no caso de ser um ato genuíno e real. Entrar na aliança é gostoso, é emocionante, é uma aventura maravilhosa. É “tudo azul”, tudo esperança, tudo belo e convidativo. Mas é preciso compreender o que uma aliança realmente envolve.


“CORTAR” UMA ALIANÇA


Fazer uma aliança não era um costume estritamente israelita ou cristão. Era praticado e conhecido no mundo inteiro. E sempre envolvia o derramamento de sangue e o compromisso mútuo de doar a vida um para o outro.

Quando a aliança era feita entre duas pessoas, a simbologia era muito simples. Elas cortavam alguns animais ao meio, e colocavam as metades opostas, uma de cada lado de um corredor. Temos um exemplo disto em Gênesis 15.9-18. Só que neste caso era uma aliança entre Deus e Abraão, e não entre dois homens. Por isto a tocha de fogo passou entre os pedaços, significando que Deus estava estabelecendo uma aliança unilateral, e incondicional com Abraão.

Mas quando duas pessoas faziam aliança entre si, elas estavam dando, uma à outra, o seu próprio sangue. Geralmente, depois de andar juntas no meio dos animais partidos, as duas se assentavam para comer o sacrifício. A palavra no hebraico para “comer” contém muito mistério no seu significado. Uma pesquisa revelará que ela significa tanto “comer” como “cortar”. Portanto o sacrifício era cortado e depois comido.

É fácil perceber que se nós dois fizéssemos uma aliança e déssemos as nossas vidas um para o outro, primeiro eu teria que me matar e dar a minha vida para você, e depois você se mataria e daria a sua vida para mim. Não sobraria muita coisa para dar seqüência ao nosso relacionamento de aliança!

Mas na verdade, tudo isto era feito por símbolos, ou seja, através dos animais que eram sacrificados. Quando alguém andava no meio daqueles animais partidos, ele estava “cortando” uma aliança. (Obs: Todas as vezes que lemos no Velho Testamento que alguém “fez” uma aliança – como em Gn 15.18 – a palavra hebraica é cortar: “Naquele mesmo dia cortou o Senhor aliança com Abraão...” A própria palavra usada para “fazer” uma aliança foi derivada desta prática de estabelecer uma aliança através de cortar os animais do sacrifício e passar no meio deles.)

Por isto quando eu “corto” uma aliança com você, eu estou dizendo: “Eu dou a minha vida para você e você dá a sua vida para mim; agora nós vamos comer este animal, e ao fazer isto, estaremos comendo a própria vida um do outro de sorte que sejamos ligados numa aliança de sangue”. E não é só isto. Estamos dizendo também: “Se qualquer um de nós violar esta aliança, que aconteça a nós como se deu com estes animais!”

Veja o que Deus disse aos filhos de Israel através do profeta Jeremias: “Farei aos homens que transgrediram a minha aliança e não cumpriram as palavras da aliança que fizeram perante mim, como eles fizeram com o bezerro que dividiram em duas partes, passando eles pelo meio das duas partes: os príncipes de Judá, os príncipes de Jerusalém, os oficiais, os sacerdotes e todo o povo da terra, os quais passaram por meio das porções do bezerro, entregá-los-ei nas mãos de seus inimigos, e nas mãos dos que procuram a sua morte, e os cadáveres deles servirão de pasto às aves do céus e aos animais da terra” (Jr 34.18-20). Portanto, fazer uma aliança desta maneira não era apenas uma forma pitoresca ou simbólica para se representar um ato insignificante. As implicações eram profundas e as conseqüências muito sérias.

As palavras que usamos freqüentemente como uma espécie de bênção aprazível, na verdade possuem um outro significado: “Atente o Senhor entre mim e ti, quando nós estivermos apartados um do outro”. O sentido não é que o Senhor nos guarde e proteja ainda que estejamos longe um do outro. Essas palavras foram ditas quando Jacó e Labão fizeram a aliança e disseram: “Agora fizemos um acordo, e Deus vigie você e Deus vigie a mim, e se um de nós dois quebrar esta aliança, Deus nos julgue!” Portanto, quando você for repetir este versículo para alguém, pelo menos fale estas palavras com o sentido correto! “O Senhor vigie entre mim e ti, quando estivermos separados um do outro – Deus está nos vigiando para ver se estamos sendo fiéis à nossa aliança!” (Ver Gn 31.44-55).


A ALEGRIA DA ALIANÇA


Voltemos à história de Davi e Jônatas. Como era costume trocar presentes, Jônatas se despojou da sua capa, e a deu a Davi, junto com sua armadura, espada, arco e cinto (1 Sm 18.4). Quando começamos a falar sobre um determinado assunto, é muito fácil enfatizar um lado ou aspecto da questão mais que os outros. E neste assunto de aliança, poderíamos nos tornar muito sóbrios e melancólicos. Temos a tendência de ficarmos sérios e pensativos por causa da necessidade de sermos comprometidos com alguém, com integridade e veracidade. Tudo isto é bom e importante.

Mas se tivermos só este lado, ficaremos desequilibrados. Há uma outra parte da nossa natureza, que deseja rir, bater palmas, brincar e se deleitar nas coisas boas da vida. Isto também é válido. Tenho descoberto que a prática dos meus relacionamentos de aliança com outros irmãos tem me levado a andar com eles por lugares bem tenebrosos. Mas ao mesmo tempo temos nos divertido bastante!

Desta forma, vejo em 1 Samuel 19.1 o seguinte: “E falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos para que matassem a Davi. Porém Jônatas, filho de Saul, estava mui afeiçoado a Davi.” Outra tradução em inglês diz: “Jônatas se deleitava grandemente em Davi”. O relacionamento deles era gostoso! Eles tinham prazer em estar juntos. A finalidade de uma aliança que liga duas ou mais pessoas diante de Deus não é apenas produzir lealdade, integridade, veracidade e a capacidade de enfrentar juntos os períodos de provação e perseguição – mas é também para trazer a realização completa de cada vida, de forma que tenhamos prazer e alegria uns nos outros!

Eu tenho um relacionamento de aliança com alguns irmãos, e não me importo com as batalhas ou provas de fogo que temos de passar e que já passamos juntos. Mas posso dizer que a alegria que temos uns nos outros é mais que uma compensação satisfatória. Nós passamos horas juntos, compartilhando juntos, comendo juntos, passeando juntos, partindo pão juntos e aconselhando-nos mutuamente. Aleluia! Eu gosto disto!

A aliança do casamento é uma boa ilustração de tudo isto. Um casamento feliz traz alegria, aventura e divertimento. Um casamento acertado traz alegria, porque a mulher da sua mocidade é a mulher a quem Deus o ligou. Toda a dor e trabalho de dar à luz e criar filhos, todas as provações, todos os problemas, toda a frugalidade que vocês compartilham, todas as situações tempestuosas pelas quais vocês têm passado, tudo isto tem uma compensação, porque vocês têm um relacionamento de felicidade e regozijo juntos.

“Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). A primeira vez que Deus viu alguma coisa que não era boa, foi quando viu Adão sozinho. Até este ponto, quando Deus criava alguma coisa, ele dizia: “Ah, isto é bom!” Ele criava mais alguma coisa e dizia: “Isto é bom, também”. Depois ele olhou e viu Adão, e disse: “Olhe aí, aquilo não é bom!” E graças a Deus, ele resolveu o problema! (Às vezes alguém pergunta se de fato ficou resolvido, mas é certo que ficou!)

Francamente, não compreendo como passei tantos anos no ministério sem relacionamento de aliança com outras pessoas! Se em alguns momentos sinto-me triste em relação ao meu passado, é porque vejo como eu andava sozinho, cometendo asneiras e estragando as coisas vez após vez, simplesmente por não ter uma pessoa com quem eu pudesse ir junto à casa do Senhor. Eu entrava naquele templo enorme, com sua torre alta e majestosa e seu púlpito magnífico, fabricado sob encomenda, e seus bancos antigos e veneráveis que comportavam duas mil pessoas sentadas. A multidão afluía para lá com regozijo e alegria, mas eu entrava ali sozinho. Entregava o recado que pesava na minha alma e depois saía sozinho. Eu vivia numa elevada solidão.

Não existe uma pessoa tão solitária quanto o pastor. Pois ele não pode compartilhar os problemas do rebanho com o rebanho! Isto é óbvio. E é justamente aqui que se vê a essência da pluralidade de relacionamentos. Quando você vive em aliança com um outro irmão do seu nível de ministério e maturidade, não é preciso carregar os pesos sozinho. Vocês compartilham os pesos, pois melhor é serem dois do que um. Há uma recompensa melhor para o seu trabalho. Se um cair, o outro o levantará. Se um passar frio, o outro o esquentará (Ec 4.9-12).

Essa não é uma história só de sacrifício e sofrimento, meu irmão! Você não precisa ranger os seus dentes, cerrar os seus punhos, comprar uma cruz, e arrastá-la pela rua principal da cidade! Nós precisamos de toda a alegria e gozo que puderem ser extraídos de um relacionamento de aliança. Aproveite, delicie-se nisto, e nunca permita que sua consciência o condene quando um relacionamento produz esse fruto na sua vida! Isto vem de Deus! Aleluia!


A PROVA DA ALIANÇA


Veremos agora como a aliança é provada. A fim de que isto aconteça, não é preciso profetizar: “Assim diz o Senhor”. É simplesmente o caminho natural das coisas. A vida é planejada de tal maneira que o único crescimento e desenvolvimento possível surge de situações onde somos diretamente confrontados por tensões e obstáculos deliberadamente plantados no nosso caminho. Se não houver dificuldades e provações, ou se fugirmos delas, não haverá crescimento. Haverá estagnação.

1 Samuel 20.1-4: “Então fugiu Davi da casa dos profetas, em Ramá, e veio, e disse a Jônatas: Que fiz eu? qual é a minha culpa? E qual é o meu pecado diante de teu pai, que procura tirar-me a vida? Ele lhe respondeu: Tal não suceda; não serás morto. Meu pai não faz coisa nenhuma, nem grande nem pequena, sem primeiro me dizer; por que, pois, meu pai me ocultaria isso? Não há nada disso. Então Davi respondeu enfaticamente: Mui bem sabe teu pai que da tua parte achei mercê; pelo que disse consigo: Não saiba isto Jônatas, para que não se entristeça. Tão certo como vive o Senhor, e tu vives, Jônatas, apenas há um passo entre mim e a morte. Disse Jônatas a Davi: O que tu desejares, eu te farei.”

Isto é uma aliança! Jônatas estava falando numa situação onde, como filho do rei, era o herdeiro do trono. Ele era uma celebridade na nação. Davi estava se apagando. Logo seria exilado. No entanto, Jônatas entendia o significado de uma aliança. Ele sabia que quando você “corta” uma aliança com alguém, não é só para as horas de tranqüilidade ou felicidade. Quando você corta uma aliança com alguém e derrama o sangue dos animais sacrificiais, está dizendo: “Eu comprometo a minha vida com você até a morte!” E posso lhe garantir que nestes dias precisamos de compromissos desta natureza!

Precisamos examinar o relacionamento de Jônatas com Saul sob dois aspectos. Em primeiro lugar, quanto à família, e em segundo, quanto à sua posição oficial. Quanto à família, ele era filho de Saul, e isto requeria um relacionamento de filho para pai. Mas quanto à sua posição oficial, Saul era rei de Jônatas. E Jônatas via seu pai como rei, um rei abandonado por Deus. Por isto ele tinha que se equilibrar numa corda esticada, numa posição muito fina e delicada. Saul representava o governo de um homem que sobressaía de todo o povo um ombro acima, mas que era destituído do Espírito de Deus. Jônatas reconheceu em Davi o rei ungido por Deus. E ele sabia que já não havia esperança para seu pai.

Por isso, Jônatas fez uma escolha. Ainda que Saul fosse seu pai, ele resolveu se identificar com Davi e participar da mesma sorte com ele. Cortou uma aliança com Davi – mas ao mesmo tempo ele tinha que se equilibrar numa corda esticada, pois continuou morando na corte de seu pai e comendo na mesa real. Ele era o herdeiro de um trono, no entanto fizera uma aliança de sangue com um homem que em breve seria banido da sua pátria. Jônatas se equilibrou naquela corda esticada de uma forma admirável!

E assim Jônatas disse a Davi: “O que tu desejares, eu te farei”. Agora é hora de pôr os pés no chão, é hora do arrocho, onde os nossos compromissos de aliança serão testados e desafiados. Estaremos dispostos a manter firmes os nossos relacionamentos e compromissos, mesmo quando os perigos e desafios nos confrontarem cara a cara? É muito bom manter uma aliança no meio da tranqüilidade, quando tudo é fácil. Mas quando seu irmão está enfrentando um problema, quando está em dificuldade, você permanece firme ao seu lado?

Esta não tem sido uma característica dos nossos dias. Nossa geração tem produzido uma safra de violadores de alianças e compromissos, pessoas que não entendem a natureza da lealdade, pessoas que venderiam seus companheiros em troca de uma posição política ou de uma vantagem pessoal! E Deus está trazendo à existência uma sociedade e uma cultura alternativas que irão reintroduzir o significado de integridade e lealdade entre os homens num mundo destinado a ser controlado por um governo moral.

Uma vez que desaparecem a integridade e a lealdade, tudo o mais se desintegra. Alguém disse certa vez que se Deus falasse uma mentira, todo o universo imediatamente se desintegraria! As estrelas cairiam do céu, o sol deixaria de brilhar, e todos os átomos se partiriam e se espalhariam pelo universo. Por quê? Porque ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3)! E se aquela palavra não for uma palavra pura, se não for uma palavra testada, se não for uma palavra de veracidade e integridade, então todo o universo desmoronará. Mas atrás deste universo há uma palavra, e é a palavra de Deus que não pode mentir! Ela sustenta o universo, e sustenta o homem que se ampara firmemente nela. E Deus há de confirmar a sua integridade ao mesmo tempo em que você confirma a integridade divina.

1 Samuel 20.8: “Usa, pois, de misericórdia para com o teu servo, porque lhe fizeste entrar contigo em aliança no Senhor.” Davi está lembrando a Jônatas que eles estão numa aliança no Senhor. Que o Senhor está vigiando. Que o Senhor participa desta aliança. Isto não era apenas uma combinação humana. Eles precisavam se relacionar com integridade.

Davi tinha certeza que Saul queria matá-lo. Jônatas não acreditava nisto, mas estava começando a descobrir que era verdade. E Jônatas, querendo proteger Davi do seu pai, disse-lhe: “Vem e saiamos ao campo. E saíram. E disse Jônatas a Davi: o Senhor, Deus de Israel, seja testemunha. (Note outra vez a participação de Deus nesta aliança.) Amanhã, ou depois de amanhã, a estas horas sondarei a meu pai; se algo houver favorável a Davi, eu to mandarei dizer. Mas se meu pai quiser fazer-te mal, faça com Jônatas o Senhor o que a este aprouver, se não to fizer saber eu” (1 Sm 20.11-13).

Vamos observar uma coisa aqui. A impressão é que não houve perfeita confiança um no outro. Mas creio que as palavras registradas em Mateus 18 vão ressoar na igreja hoje como uma das mensagens principais desta hora. Diz aí que se o seu irmão pecar contra você, vá a ele. Em outro lugar diz que se seu irmão pecar, repreenda-o, e se ele se arrepender, perdoe-lhe (Lc 17.3). Nós temos falhado nesta nossa responsabilidade de confrontar uns aos outros com amor para lembrar nosso irmão da natureza do relacionamento que existe entre nós.

E Jônatas disse a Davi: “Se meu pai quiser fazer-te mal, faça com Jônatas o Senhor o que a este aprouver, se não to fizer saber eu, e não te deixar ir embora, para que sigas em paz” (1 Sm 20.13). Ele estava dizendo a Davi: “Se tudo estiver bem na minha casa, e meu pai não tiver intenção de matá-lo, então enviarei um mensageiro e você pode voltar como se nada tivesse acontecido. Mas se houver um plano de lhe fazer mal então arriscarei a minha própria vida para vir lhe avisar, a fim de que você possa saber a verdade e escapar da situação.” Isto é relacionar-se com integridade diante de Deus!
Jônatas prometeu vir a Davi, arriscando sua própria vida, e depois pergunta: “Se eu então ainda viver, porventura não usarás para comigo da bondade do Senhor, para que não morra?” (v.14). Por que Jônatas fez esta pergunta? O que ele já sabia? Ele sabia, como descobrimos depois, que certamente Davi seria o rei de Israel!

Mas não duvido por nenhum instante da motivação de Jônatas. Esta aliança fora “cortada” na base do amor. E seja qual for o conhecimento que Jônatas tinha, ele estava disposto a arriscar sua própria vida em favor daquela causa. Ao mesmo tempo que sabia que Davi seria rei, ele estava preparado também para se expor à ira de seu pai. Se Saul o tivesse visto saindo do palácio para avisar Davi, ele teria matado o seu filho assim como mataria um outro qualquer. Era esta a natureza dos antigos monarcas absolutos. Sem dúvida o teria matado! Portanto, não questione a motivação de Jônatas. O que Jônatas estava dizendo era: “Se eu permanecer vivo, você não me mostrará a bondade do Senhor, para que eu não morra?”


A AMPLIAÇÃO DA ALIANÇA


E ainda no versículo 15: “Nem tão pouco cortarás jamais da minha casa a tua bondade”. Agora a aliança está sendo ampliada e renovada. Até agora eles tiveram um relacionamento adequado, mas chegou a hora de fortalecê-lo a fim de capacitá-lo a suportar tensões e pressões ainda maiores. À medida que um relacionamento de aliança se desenvolve, você descobrirá que ele adquire uma capacidade cada vez maior de suportar as pressões.

“Nem tão pouco cortarás jamais da minha casa a tua bondade; nem ainda quando o Senhor desarraigar da terra a todos os inimigos de Davi” (v.15). Ele estava dizendo: “Eu sei que todos os seus inimigos serão cortados. É possível que eu também morra ao cumprir a minha parte da aliança. Posso morrer ao protegê-lo da ira de meu pai. Mas, Davi, será que poderíamos fazer uma aliança entre as nossas casas? Se eu viver (1 Sm 23.17), você será rei e eu estarei com você, e meu pai sabe disto.”

Esta era a grande esperança de Jônatas, o seu sonho. Eu também tenho grandes esperanças. Tenho os meus sonhos. Um homem que não sonha não vale o que come. Aquele que não sabe usar a sua imaginação santificada para projetar as suas mais altas esperanças já está meio morto! Eu tenho os meus sonhos! Tenho uma visão! Vejo algo que acontecerá na terra! E tenho um pressentimento que é possível eu não viver para presenciar o seu cumprimento. Mas isto não me impede de sonhar.

Jônatas tinha os seus sonhos. Ele sabia que seu pai havia de cair. Sabia que Davi seria rei. E esperava estar ao seu lado, governando Israel. Este era o seu sonho. E se ele morresse, protegendo o seu irmão de aliança? Ele queria neste caso uma promessa do seu irmão de aliança que se algo lhe acontecesse, Davi cuidaria da sua família; e da mesma forma ele estava disposto a cuidar da família de Davi, se este viesse a falecer.

E desta forma, ampliaram a sua aliança. “Assim cortou (fez) Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: Vingue o Senhor os inimigos de Davi. Jônatas fez jurar a Davi de novo, pelo amor que este lhe tinha, porque Jônatas o amava com todo o amor de sua alma” (vv.16,17).
Vejo aqui mais um quadro daquilo que precisa ser realidade nestes dias. Estamos entrando, como igreja, numa nova fase de relacionamento de aliança nesta hora. Há alguns mais adiantados que já estão praticando a vida em comunidade. Não vou comentar aqui sobre comunidade. Mas creio que Atos 2 e Atos 4 contêm o espírito imutável de um sólido cristianismo de aliança. E este espírito diz: “Na hora da crise, o que eu possuo pertence a você, e temos todas as coisas em comum”.

Não sou contra a iniciativa particular. Não estou dizendo que você não pode ter a sua própria conta bancária. Estou falando que o espírito de aliança diz: “O que é meu é seu, e o que é seu é meu; na hora da crise, não haverá um segundo de hesitação. Compartilharei tudo que eu tiver com você! Você compartilhará comigo. Consideramos todas as coisas que Deus nos deu em comum, pois ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Nós somos mordomos desta terra que lhe pertence. E podemos compartilhar uns com os outros tudo que é dele.”


A EMOÇÃO DE ALIANÇA


Portanto firmou-se uma aliança entre as duas casas. Agora vejamos no versículo 30: “Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e disse-lhe: Filho de mulher perversa e rebelde; não sei eu que elegeste o filho de Jessé, para vergonha tua e para vergonha do recato de tua mãe.” Isto era uma coisa horrível para dizer a um filho, especialmente quando entendemos as implicações desta frase. “Pois enquanto o filho de Jessé viver sobre a terra nem tu estarás seguro, nem seguro o teu reino” (v.31).

Você é capaz de perceber aqui uma tentativa sutil para dividir Davi de Jônatas? “Você não sabe que enquanto Davi estiver vivo, o seu trono está em perigo?” Mas Jônatas não pensava assim, porque não considerava mais o trono como seu. Ele pensava no “nosso” trono. Quando você entra num relacionamento de aliança, não é mais uma questão do meu ministério. É o nosso ministério. Não é mais a minha reputação. É a nossa reputação. Davi e Jônatas tinham um relacionamento de aliança que comparavam sem hesitação a um casamento. Pois o seu amor ultrapassava o amor de mulheres!

1 Samuel 20.32-34: “Então respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há ele de morrer? Que fez ele? Então Saul atirou-lhe com a lança para o ferir; com isso entendeu Jônatas que de fato seu pai já determinara matar a Davi. Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa, e neste segundo dia da lua nova não comeu pão, pois ficara muito sentido por causa de Davi, a quem seu pai havia ultrajado.”

Agora Jônatas foi, como prometera, avisar a Davi. E chegamos àquilo que eu chamo de “emoção de aliança”. E quero que você recorde que tanto Davi como Jônatas eram homens de guerra. Eram homens de coragem, homens de bravura. E digo isto para que leiamos esta passagem com um entendimento claro das pessoas que vemos aí.

V. 41: “Indo-se o rapaz, levantou-se Davi do lado do sul, e prostrou-se rosto em terra três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, Davi, porém, muito mais.” Isto é emoção de aliança. Sempre, em todas as épocas, foi errado o homem chorar. Sempre foi errado o homem demonstrar qualquer espécie de emoção. Ele devia ser estóico e impassível. Ele chora só por dentro.
Mas não creio nisto. Creio que há uma expressão válida de emoção num relacionamento de aliança. Quando você está atravessando provações, problemas e dificuldades, você pode chorar com seu irmão sem acanhamento, misturando as suas lágrimas com as dele e tendo os braços fortes e afetuosos do seu irmão ao seu redor, transmitindo-lhe coragem e força.

Vv.42,43: “Disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto juramos ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja para sempre entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua. Então se levantou Davi, e se foi, e Jônatas entrou na cidade.”

Emoção de aliança. Nós precisamos saber que é bom chorar juntos. Precisamos entender que quando enfrentamos uma crise juntos, não precisamos ser estóicos. Não precisamos fazer de conta que não sentimos nada. Podemos nos desprender em lágrimas e emoções. Vejo os presbíteros de Éfeso abraçando e beijando calorosamente a Paulo; e os irmãos de Cesaréia chorando e implorando-lhe para não subir a Jerusalém; até que ele respondesse: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração?” (At 21.13). Mas eles sabiam que não mais veriam Paulo face a face.

Através de toda a Bíblia encontro horas em que se devia gritar, horas em que se devia chorar, horas em que se devia rir. Todas as emoções humanas são válidas em Deus! Deus não quis que suprimíssemos nossas emoções – elas têm a sua manifestação legítima. E que hora mais própria para o choro que quando choramos com um irmão de aliança que está atravessando uma hora de crise, e comprometemos nossos corações um ao outro?



O FIM DA HISTÓRIA


Em 1 Samuel 23.14-18, Davi descobriu que Saul estava procurando matá-lo outra vez enquanto ele se refugiava no deserto de Zife. “Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi a Horesa e lhe fortaleceu a confiança em Deus” (v.16). Eu chamo isto de coragem, esperança e persistência de aliança. “E lhe disse: Não temas, porque a mão de Saul, meu pai, não te achará; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, sabe bem” (v.17). E cortaram outra aliança! Aleluia! No meio do perigo, lá no deserto, Jônatas sabia que a mão de Deus estava sobre Davi, e ele vivia na esperança de poder participar da sua vitória.

Agora, neste ponto preciso falar sobre uma questão que tem perturbado muitos de nós. Eu não poderia passar por toda esta história do relacionamento entre Davi e Jônatas e acreditar que se Davi tivesse pedido que Jônatas deixasse Saul e permanecesse com ele, que Jônatas teria se recusado. Por muito tempo falei que Jônatas fez tudo menos a coisa mais importante – abandonar a casa de seu pai. Mas não creio mais nisto. Creio que ele teria permanecido com Davi se este tivesse falado uma só palavra neste sentido.

Mas aparentemente tanto ele como Davi sentiam que Jônatas deveria permanecer na casa de Saul. Ele seria o agente de Davi na corte de Saul. Creio que temos prejudicado a imagem de Jônatas ao considerá-lo um homem fraco ou temeroso, porque não se uniu ao bando de Davi. Creio que Jônatas permaneceu na corte de Saul para servir de intermediário, mensageiro e advogado. E ele literalmente deu a sua vida em favor de Davi. Não posso aceitar, diante do entendimento que tenho agora de aliança, e diante do entendimento que eles tinham de aliança, que Jônatas teria deixado de ficar com Davi, se ele tivesse lhe pedido isto. Mas Jônatas entregou a sua vida.

E você diz: “Mas, irmão Baxter, este não é um final feliz da sua história!” Aí está o problema. Todo romance tem que terminar em felicidade. Mas esta é uma das maneiras em que nossa sociedade engana a si mesma. Quem disse que toda história precisa ter um final feliz?

Quando falamos sobre aliança e a necessidade de entregar nossas vidas uns pelos outros, não devemos limitar isto a palavras superficiais e baratas! É possível que tenhamos que dar literalmente as nossas vidas uns pelos outros. Jônatas deu a sua. Não foi um fim feliz da história – ele morreu mesmo! Mas ao mesmo tempo, foi um fim feliz! Pois o fim não é a morte! Jônatas vai estar em pé diante de Deus no dia do Senhor, com a cabeça bem erguida! Ele vai tomar o seu lugar ao lado do progenitor do nosso Senhor, o grande rei de Israel! E Davi vai olhar para ele com favor, enquanto permanecem juntos diante do seu Deus.

Se houver alguma manifestação de emoção que ultrapassa estas que nós conhecemos, Davi vai estender a sua mão e abraçar a Jônatas, dizendo: “Jônatas, eu pensei em você todos os dias – quando sentei-me no meu trono, quando fiz aliança com Judá, quando fiz aliança com todo o Israel, quando marchávamos para Sião – nunca houve um dia em que você não estivesse no meu coração: Eu o estava amando quando fui ao lugar alto, quando busquei a arca – eu estava pensando em você, Jônatas! Que Deus o abençoe, Jônatas! Você me salvou de seu pai, você deu a sua vida por mim!”

É verdade que alguns morrem; mas alguns de nós vivem porque alguns de nós morrem!

Disse um pregador em 1948, nos dias do avivamento chamado “Chuva Serôdia”, dias em que se falava muitas coisas extravagantes e exageradas. Mas lembro-me deste pregador que dizia o seguinte: “Glória a Deus, quando estourar este avivamento, todas as cadeias vão se abrir e os cristãos serão libertados das suas prisões nos países comunistas”. Como ele pintou um quadro espetacular! E as pessoas aplaudiam e diziam: “Aleluia! Glória a Deus!”

Mas eu fiquei ouvindo e pensando: “Isto não está certo”. Depois da reunião fui a ele, e disse-lhe: “Irmão, quero dizer isto com amor, mas creio que você prejudicou o povo nesta noite. Quem sabe alguns dos seus ouvintes serão presos pela sua fé. Eles vão ouvir os passos de um soldado romano, como aconteceu com Paulo. Eles vão ter que colocar as suas cabeças na pedra para serem cortadas. E aí eles vão dizer: ‘Ei, onde está Deus?’”

Creio que precisamos mostrar ao povo as possibilidades reais no plano de Deus. É verdade que Deus tirou Pedro da prisão, sobrenaturalmente. Mas Tiago foi decapitado. É maravilhoso pregar sobre a libertação de Pedro, mas quantos já ouviram um sermão sobre a morte de Tiago?

Agora temos a lamentação da aliança, em 2 Samuel 1.24-27: “Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de rica escarlata, que vos punha sobre os vestidos adornos de ouro. Como caíram os valentes, no meio da peleja! Jônatas sobre os montes foi morto! Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres. Como caíram os valentes, e pereceram as armas de guerra!”

Meu irmão, nós vamos perder alguns dos nossos companheiros. Tem que haver algo mais no cristianismo que isto que conhecemos atualmente. Temos que experimentar o ferro nas nossas almas! Temos que estar preparados para a realidade!



A LEALDADE DA ALIANÇA


“Sucedeu que, habitando o rei Davi em sua própria casa, tendo-lhe o Senhor dado descanso de todos os seus inimigos em redor... disse Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que use eu de bondade para com ele, por amor de Jônatas?  ...Então Ziba respondeu ao rei: Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés...Vindo
Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, a Davi, inclinou-se prostrando-se com o rosto em terra” (2 Sm 7.1; 9.1-6).
Por que Mefibosete se prostrou? Porque a casa de Saul fora exterminada, e ele era o último membro de uma casa rebelde. Quando ele se prostrou, sabia que merecia morrer, pois era membro de uma casa rebelde. É assim que nós nos aproximamos de Deus. Merecemos morrer; somos membros de uma casa rebelde; somos aleijados de ambos os pés; não podemos fazer nada em favor de nós mesmos – nem correr para Deus, nem correr dele!

2 Samuel 9.6,7: “Vindo Mefibosete... a Davi, inclinou-se prostrando-se com o rosto em terra. Disse-lhe Davi: Mefibosete. Ele disse: Eis aqui teu servo. Então lhe disse Davi: Não temas, porque usarei de bondade para contigo, por amor de Jônatas, teu pai.” Creio que Davi disse isto com um nó na sua garganta, pensando no jovem alto e ereto com quem ele havia cortado uma aliança naquele dia distante, há tantos anos atrás; pensando no homem que arriscara sua vida, sua reputação, sua coroa, e que no fim morrera no campo de batalha com seu pai, tudo porque fizera uma aliança com Davi.

E olhando para esta pobre e débil criatura, aleijada de ambos os pés, o remanescente de uma casa rebelde, ele disse: “Usarei de bondade para contigo, por amor de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu comerás pão sempre à minha mesa”. Isto é integridade de aliança. Eu quase prefiro a palavra “lealdade” à palavra “amor”; pelo menos que a usássemos por algum tempo para substituir a palavra “amor”. Pois Deus nos está chamando à lealdade.

Vamos resgatar a lealdade do esquecimento. Coloquemos a lealdade no vocabulário cristão mais uma vez. Demonstremos a integridade outra vez diante dos homens! Que os homens notem que não zombamos uns dos outros publicamente, nem expomos os defeitos dos nossos irmãos para os outros. Nós cobrimos a nudez do nosso irmão, nós nos colocamos ao seu lado, identificando-nos com ele. Podemos confrontá-lo em casa, mas lutamos em seu favor no campo. Não o expomos diante dos inimigos dele e nossos!


Restauremos a lealdade! Restauremos a integridade! Restauremos a coragem! Sejamos homens de Deus! Cortemos alianças uns com os outros! E antes de cortar uma aliança, conheça a pessoa com quem você pretende se comprometer. Pois quando você corta uma aliança com alguém, vocês estão bebendo o sangue um do outro, estão empenhando as próprias vidas um pelo outro. Vocês estão se comprometendo a entregar a vida um pelo outro.




Fonte: Ruach Ministries International / Por Ern Baxter

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